sábado, 26 de junho de 2010

One Shot: Marcas.


Marcas, marcas, marcas e mais marcas. Por mais vezes que olhe o meu corpo a única coisa que ainda consigo focar são marcas. Cicatrizes de todos os tipos, tamanhos e feitios. Letras, riscos, corações, sorrisos. Sim eu tenho jeito para o desenho.
No entanto, e como seria de esperar, há uma cicatriz que permanece intacta em mim, no meu corpo, no meu coração, na minha mente. É ela que acorda todos os fantasmas durante a noite e é ela que me desperta tantas e inúmeras vezes para a realidade. Saber o que ela significa, saber aquilo que um dia tu significaste e aquilo que significas hoje em dia, faz-me perder o sono e usar as lâminas.

Lembro-me de outras circunstâncias onde perdia o sono, onde nós perdíamos o sono. Conversávamos noites inteiras sem cessar, éramos os melhores juntos, a nossa cumplicidade via-se a milhas e a nossa ligação era… era qualquer coisa de especial. Era uma ligação que eu adorava que nunca tivesse sido quebrada, mas foi, tu quebraste-a. Quebraste-a sem me avisares e acima de tudo, quebraste o meu coração no dia do julgamento final. Pergunto-me porque te metias em porcarias. Seria só por fazeres parte de uma banda rock internacionalmente conhecida? Ou tinhas outras razões? Não sei.

Paro em frente ao espelho pela terceira vez. Olho todas as cicatrizes de guerra, todas as picadas de agulhas, todas as marcas que insististe em deixar na minha pele, no meu corpo. Dava-te assim tanto prazer escreveres o teu nome a sangue frio nas minhas costas? Continuo a ter três letras desenhadas ao fundo das minhas costas. Lembro-me tão bem desse dia e da quantidade de sangue que sentia escorrer pelas minhas curvas. Por incrível que pareça, eu sentia o sangue e não sentia a dor, e talvez fosse por isso que tu continuaste a dar prazer a ti mesmo vendo o meu sangue jorrar do meu corpo sem importando a minha opinião.

Dou por mim a pensar em tudo aquilo que me fez adquirir as marcas do passado. Dou por mim a pensar no porquê, no quê, no quem, em ti. Acho fantástico o facto de mesmo depois de tanto tempo já ter passado ainda não me teres deixado. A sério, fascina-me. Fascina-me a maneira como assaltas o meu pensamento e como em sonhos, talvez, assaltas o meu corpo. Sou capaz de jurar que tenho uma nova marca todos os dias ao acordar. Sou capaz de jurar a minha vida em como tu ainda, mesmo que silenciosamente, te deslocas até mim e insistes em cravar-me mais qualquer coisa no corpo. Acho extremamente fascinante, de facto.

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Onze.
Podia estar aqui dia e noite a contar os pontos onde cada cicatriz perdura, podia contá-los todos, mas são demais. São demasiadas as amarguras que não consigo deixar no passado e que todos os dias, ao sair da cama e ao me olhar ao espelho, comparo com todas as que o meu cérebro processa e profetisa que virão. É simplesmente extraordinário a maneira como o teu pensar assassino me leva, de facto, para o inferno tal como, um dia, levou ao céu.
Podia tentar responder-me ao porquê constante da tua presença em mim, no meu mundo, no meu quarto, no meu viver e no meu simples respirar, mas não. Cada vez que uma golfada de ar entra pelo meu nariz e percorre os meus canais respiratórios até purificar o meu sangue, consigo sentir que esse mecanismo se dá por tua causa. És tu que o comandas, és tu que pensas no meu lugar. Talvez o porquê não possa ser revelado, pelo menos não a mim. No entanto tenho um feeling que responde a esse porquê.

O teu poder omnipresente não se deve ao facto de sempre teres sido considerado um Deus, mas ao simples facto de o teu corpo ter evaporado à muito tempo, talvez pelas drogas que tomavas. Só tenho pena que esse poder que agora dominas não seja usado para o bem mas para o meu mal. Será pedir muito que te desprendas de mim, da Terra, do mundo, do meu corpo e das minhas cicatrizes constantes? Será?
Talvez.

No meio de todas estas recordações à uma que não consigo esquecer: o teu funeral à chuva. Mas peço-te que deixes o meu corpo repousar sobre o sangue outrora derramado por ti, e que permitas ao meu corpo acordar sem uma nova marca em si.
Afinal, tu estás morto.

3 comentários:

  1. Toma filho da buta! Aposto que estavas a falar dos th e esse filho d'uma cona fedorenta morreu ! *muahaha*
    Sim, e ainda por cima depois de ter massacrado compeltamente tu --'
    Pego ! :c

    (adorei +.+)

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  2. És um génio a escrever e tenho dito.

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