quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

[ 25 ]

Cá está ;)



- Consegues aguentá-lo agora? – Joe perguntou a Silvie, referindo-se a Tom que acabava de cair podre de bêbado sobre a cama.

- Sim, leva o Bill… - olhou o amigo e não conseguiu conter o riso. Se Tom não se conseguia mexer, Bill era o extremo oposto estava mais eléctrico que o costume. - … e vê se o acalmas ou se fazes alguma coisa com ele que lhe tire alguma energia! – piscou-lhe o olho e Joe riu-se.

- Boa noite. – desejou e Silvie retribuiu.

Logo na noite em que as coisas não estavam totalmente bem é que tinha que cuidar da bebedeira de Tom.

- Tom… - chamou por ele quando se ajoelhou sobre a cama. Ele gemeu. – Vem tomar um banho e depois deitas-te…

- Mas eu estou aqui tão bem. – disse e levantou muito dificilmente a cabeça: - Cheiro mal para ir tomar banho? - ela levou a mão à testa e riu-se nem ia argumentar.

- Anda lá! – puxou-o por um braço arrastando-o da cama, aterrando no chão.

- Oh atão! – Tom ficou confundido. – O que é que aconteceu? – perguntou sentindo Silvie puxá-lo por um braço. – Vais-me violar?! – e desatou a rir desalmadamente. – Vais? Vais, vais vais?!

- Tom, cala-te e levanta-te! – pediu continuando a arrastá-lo.

- Tu estás a puxar-me não preciso de me levantar… - disse na sua lógica.

- Mas estás gordo eu não aguento contigo! – respondeu sem paciência.

- Oh!, - exclamou puxando o braço dela que o agarrava e Silvie sentou-se repentinamente ao seu lado, largando-o. Tom sentou-se também com alguma dificuldade e desapertou a camisa olhando os abdominais. – isto é músculo. – apalpou-se. - Não estou gordo. – olhou-a. – Estou gordo? – perguntou confuso.

- Levanta-te. – descalçou os saltos e com uma das mãos agarrou parte do vestido branco comprido que trazia vestido; com a outra mão puxou novamente por ele e desta vez Tom pendurou-se nos seus ombros. – Banho. – disse quando chegaram à casa de banho e Silvie lhe despiu a camisa e lhe desapertou o cinto das calças, enquanto Tom perguntava o que é que estavam ali a fazer.

- Vais mesmo violar-me… - disse muito sério olhando o que ela fazia.

- Vou, mas para isso preciso que me ajudes! – Tom olhou-a na dúvida. – Tira as calças, as meias e os ténis enquanto eu abro a água. – pediu. Tom fez continência, ou uma espécie de continência melhor dizendo. Sentou-se na sanita e com bastantes dificuldades despiu-se até ficar somente de boxers.

- E agora? – Tom olhou-a inocentemente.

- Banheira. – apontou como se fosse óbvio.

- Mas não me ias violar primeiro? – perguntou quando Silvie o ajudou a entrar.

- Eu faço as duas coisas ao mesmo tempo! – respondeu. – Sou muito versátil.

- De vestido? – perguntou com um arrepio ao sentir a água fria escorrer pelas suas costas. – Ahhh! Está fria! – deu um salto encostando-se à parede fugindo da água.

- Foi de propósito, precisas de arrefecer as ideias.

- Porquê? Por causa da nossa mini discussão? – como um verdadeiro bêbado não conseguia mentir ou esconder o que lhe ia na mente. – Discussão que nem foi discussão… - começou a divagar.

- Tom! – interrompeu-o. Ele olhou-a. - Põe-te lá de baixo de água, se fazes o favor! – pediu com as mãos na cintura.

- Está fria! – arregalou-lhe os olhos.

- Assim não te violo! – ameaçou. Tom ficou novamente confuso.

- Não te percebo. – desabafou. – Ficaste toda coisinha quando eu disse que já éramos praticamente um casal, mas agora queres-me violar… não te percebo. – olhou-a.

- Foste tu que fugiste à conversa! – respondeu bruscamente. – E põe-te debaixo de água! – ordenou.

- Obriga-me. – Silvie conhecia aquele olhar. Era o olhar de desafio típico dele.

- Depois não te queixes! – puxou o chuveiro do suporte e apontou-o a Tom, molhando-o das cabeça aos pés.

- ‘Tá fria, ‘tá fria! – dizia aos saltinhos tentando fugir dela, mas inutilmente.

Tom parou finalmente encostando-se à parede e deixando que a água que Silvie teimava em fazer escorrer sobre si lhe lavasse a alma. Sentia-se menos tonto e mais apto a raciocinar. Passou as mãos pela cara e pelas tranças.

- Melhor? – Silvie perguntou desligando a água fria e ligou a quente.

- Sim. – respondeu mais calmo e mais consciente do que se estava a passar.

- Aquece-te e depois seca-te, - passou-lhe uma toalha. – vou buscar alguma coisa para tu vestires.

- Só preciso que me tragas uns boxers, mais nada. – pediu. Ela assentiu.


- Estão aqui. – deixou-os sobre a cadeira existente ao lado do lavatório e virou costas saindo do compartimento.

- Silvie! – chamou-a.

- Que foi, Tom? – recuou. – Falta-te alguma coisa? – perguntou encostando-se à ombreira, farta de o aturar.

- Falta. – olhou-a. – Faltas-me tu! – alcançou-a e puxou-a contra si debaixo de água.

- O que é que tu est… - Tom calou-a com um beijo. Os seus pensamentos ainda estavam turvos mas os seus movimentos eram instintivos quando estava com ela. Deixou-se levar pelo seu sabor até a sentir separar-se de si. – Qual é que foi a tua? – queixou-se. Tom riu-se. – Qual é a graça? Estou toda molhada! – refilou.

- Ficas bem de todas as maneiras… - olhou-a nos olhos e decidiu seguir o conselho do irmão.

- Sim, sim… - tentou sair, mas Tom puxou-a de encontro a si pela cintura, impedindo-a.

- Olha para mim, Si. – pediu agarrando gentilmente o seu queixo com uma das mãos. Ela tentou desviar-se. Se olhasse Tom nos olhos não conseguiria segurar-se nas pernas. Sentia o vestido totalmente colado ao seu corpo, a água quente escorrer sobre si e uma das mãos de Tom percorrer a sua cintura de forma calma e delicada, estava num cenário idílico mas…

- Estás bêbado! – argumentou.

- A bebida não modifica o que eu sinto… e também não devia modificar o que tu sentes… - tentou procurar uma luz positiva nos olhos verdes dela mas tudo que conseguia ler era insegurança. Ela estava a barrá-lo.

- O que é que interessa dizer-te o que sinto agora se amanhã, quando a bebedeira passar, nem te vais lembrar?!

- Eu não me esqueço, prometo.

- Estás bêbado!

- Eu já percebi, já o disseste!

- Falamos amanhã quando estiveres curado! – largou-se dele.

- Não! – Tom puxou-a novamente. – Nenhum de nós vai conseguir dormir e eu não aguento até amanhã! – pousou ambas as mãos sobre o seu pescoço e fulminou-a. – Deixa-me ler-te. – pediu.

- Para quê? Funcionámos tão bem até aqui, porque é que agora queres saber das coisas? – perguntou num tom mais calmo do que o previsto. Sentir Tom olhá-la daquela maneira deixava-a fraca.

- Eu preciso que me digas, Si. Por favor. – implorou enquanto a água quente continuava a cair sobre os ombros dos dois. – Diz-me!

Silvie aproximou-se ainda mais de Tom agarrando-o pela cintura e encostou os seus lábios aos dele. A vida mostrara-lhe que um beijo pode carregar muito mais sentimento que as mais belas palavras de amor. Enlaçou os seus lábios nos dele e perscrutou a sua boca brincando com a língua de Tom num duelo doce pelo domínio.

Tom sorriu ao quebrar o beijo. Agora parecia-lhe totalmente óbvio que ela sentia algo mais. – Porque é que levaste a mal o que eu disse sobre nós? – deslizou as suas mãos pelo corpo dela, através do vestido agora praticamente transparente.

- Eu não levei a mal… - roçou o seu nariz no dele e depositou-lhe um breve beijo sobre os lábios. - … só queria que me tivesses dito o que sentias. – suspirou.

- Desculpa. – pediu abraçando-a mais a si e beijando os seus lábios com uma força renovada. Precisava de a sentir em si. – Posso mostrar-te agora se quiseres… - sorriu-lhe fazendo-a rir-se.

- Eu quero que mo digas, Tom. – pediu olhando fixamente os olhos do rapaz de tranças.

Tom suspirou. – Eu gosto mesmo muito de ti, Silvie. – beijou-a. – Mesmo muito. – sentiu Silvie suspirar contra os seus lábios e levar as mãos às suas costas molhadas.

- Ainda bem.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pda.

Devido à pda, a minha pessoa virá postar o 25 amanhã e depois só em Janeiro :D

beijinho*

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

[ 24 ]

20 dias depois...



- Isso mesmo que estás a pensar! Vais ser tu a apresentar a minha colecção de roupa interior feminina!

- Mas tu vais lançar uma linha de roupa interior feminina? – Silvie não tinha ideia nenhuma disso.

- Sim, está planeado um catálogo para sair dentro de dois meses íamos tirar as fotografias depois das minhas férias. – encolheu os ombros. – Tinha ideia que já to tinha dito quando mencionaste os teus desenhos… - pensou em voz alta.

- Espera aí! Tu estás a dizer que sou eu que vou fazer esse catálogo?! – perguntou só para tirar as dúvidas.

- Sim, nem que me mate para isso! Já que tu estás mesmo decidida a voltar à ribalta eu quero fazer parte disso! – sorriu-lhe e assistiu à rapariga correr para os seus braços.

- Obrigada!! – sussurrou emocionada ao seu ouvido abraçando Bill com toda a força que possuía no momento.

Tom sorriu perante a situação e Joe seguiu o mesmo caminho.

- Já agora posso pedir-te para ver o que é que tens feito? – perguntou Joe meio envergonhado.

- Claro! – sorriu-lhe ajeitando a camisa no corpo. – E obrigada. – olhou-o. – Obrigada pelo apoio ao longo dos anos. – piscou-lhe o olho. Era sempre importante ter alguém que suportasse o seu trabalho, fosse ele de que tipo fosse.

~

Tom estava sentado ao computador a actualizar-se online enquanto Silvie acabava de tomar banho. Iam jantar fora. Os quatro. Tom estava a fritar com as ideias e ideais que lhe passavam pela cabeça acerca daquele jantar.

- Demoras muito? – Tom berrou para o quarto farto de esperar por ela.

- Talvez! – ela berrou de volta ao sentir impaciência na voz dele. – Importas-te de relaxar? – ela perguntou quando chegou à sala 20 minutos depois ainda a calçar os sapatos.

- Eu estou relaxado. – disse não tirando os olhos do ecrã mordendo a ponta do polegar esquerdo.

- Nota-se, nem estás a roer as unhas nem nada! – ironizou com um sorriso.

- Oh, é estranho. – encolheu os ombros olhando-a. – Já estás?

- Já. – confirmou. – O que é que é estranho?

- Parece uma saída de casais em que o meu irmão leva um gajo! – refilou desligando o computador, levantando-se da cadeira em que estava sentado ajeitando a roupa.

- E pronto, voltámos ao mesmo! Eu a pensar que esta tarde as coisas tinham ficado assentes…! – pôs as mãos na cintura a olhar Tom como que repreendendo-o.

- E ficaram… - sim, até gostava do rapaz - … mas não é trad… - interrompeu-se.

- Tradicional? – ela riu-se. – Tu ias dizer tradicional?! – riu-se ainda mais.

- Qual é a graça disso? Não é mentira nenhuma! – cruzou os braços vendo-a agarrar-se ao estômago de tanto rir. Não percebia.

- Tom, a tua vida é tudo menos tradicional, tu és tudo menos tradicional não percebo porquê isso agora. É só mais uma maneira de implicar com o rapaz e picar o Bill?

- Uma coisa sou eu outra coisa são os outros! – refilou. – A minha vida não é para aqui chamada!

- Desculpa?! – ela olhou-o. – Não te julgava tão egoísta!

- Não é egoísmo…

- Pois não, tens razão, é mesmo estupidez. – virou-se para o espelho da sala e ajeitou a trança.

– Oh Tom, - encostou-se ao móvel e cruzou os braços – tu estás a falar a sério? O gajo das one night stands está revoltado pelo facto do amor do irmão não ser à moda antiga? – perguntava mais para si do que para ele - A sério, meu – bateu palmas – essa era a última que eu esperava ouvir de ti! Tradicional…

- Tens algum problema com o facto de eu ser o gajo das one night stands? – perguntou seriamente olhando-a.

- Não. – encolheu os ombros - Tu tens? – perguntou de volta.

- Não. – respondeu.

- Fixe, porque se estávamos em modos conservadores e achas que isto é um double date devias antes pensar que nós, ao contrário deles, não somos casal nenhum…

- Nós é como se já fossemos, a hipótese contrária nem se põe! – Tom falou tão rápido e sem pensar que só deu conta daquilo que disse depois de o proferir. “Merda!” Silvie olhou-o.

- Tens alguma coisa para me dizer, Tom? – perguntou ouvindo o telemóvel dele tocar no segundo seguinte.

- Telefone! – ele apontou o aparelho atabalhoadamente e atendeu-o dando graças ao irmão pela pontaria. – Vamos? Eles já estão à nossa espera! – saiu disparado porta fora. Em que é que estava a pensar?

Silvie seguiu-o não fazendo qualquer observação. No entanto e de certo modo até tinha gostado daquela observação por parte de Tom. Gostava de pensar que ele gostava dela dessa maneira, mas a reacção dele… o clima acabava de ficar pesado entre os dois.

Tinham ido jantar ao restaurante que já ficara seu costume depois de tanto tempo naquela ilha.

- Está tudo bem entre vocês? – perguntou Bill notando uma diferença no comportamento de Tom e Silvie. – Parecem esquisitos…

- Nós já somos esquisitos por natureza, Bill! – Silvie riu-se.

- Hum… - ele não comprou a resposta apenas trocou um olhar com Tom e ao que parecia ele tinha feito alguma coisa que não devia… ou não queria. – Sobremesa? – perguntou.

- Siiiiim! – Joe olhou a carta das sobremesas. – Acho que vou comer isto tudo!

[ … ]

- O que é que se passou? – Bill perguntou enquanto caminhava ao lado de Tom pela praia. Joe e Silvie tinham ficado para trás a conversar.

Tom olhou o irmão sem saber muito bem o que dizer. – Acho que fiz asneira…

- Pois, - Bill riu-se – isso eu também já tinha percebido. O que é que aconteceu entre vocês que tenha quebrado o clima? – perguntou, afinal durante todo o jantar mal dirigiram a palavra um ao outro e os olhares trocados não eram os cúmplices do costume.

Tom sentou-se na areia e Bill sentou-se ao seu lado.

- Eu acho que ela não gosta de mim da mesma maneira que eu gosto dela… - observou como uma criança quando descobre uma rejeição pela primeira vez.

Bill sorriu. – Fico feliz por admitires que gostas dela… - Tom soltou uma interjeição desagradada. - … mas porque é que dizes que ela não gosta de ti? – essa parte é que Bill não percebeu. Eles passavam a vida enrolados um com o outro, seria assim tão difícil os sentimentos transparecerem? – Não é óbvio?

- Porque eu hoje disse que no meu ver nós já éramos um casal e ela não achou muita piada… - olhou o irmão.

- E o que é que tu leste no olhar dela? O que é que te pareceu que ela sentiu? – perguntou tentando abrir-lhe os olhos.

- Nem a olhei nos olhos… - apercebeu-se. - … e também duvido-me que percebesse alguma coisa! – refilou.

- A mim percebes…

- Conheço-te há tantos anos quantos me lembro e és meu irmão gémeo se não percebesse era mau sinal! Agora a ela conheço-a há pouco mais de um mês, Bill…

- És tão novato nestas coisas do amor. – Bill riu-se.

- Oh. – cruzou os braços e amuou. – Conselhos?

Sorriu. – Olha-a nos olhos. – levantou-se.

- Grande conselho. – remordeu para si mesmo ao ver Silvie e Joe virem na direcção deles. Levantou-se e seguiu o irmão.

- E agora o que é que nós vamos fazer? – Silvie perguntou.

- Beber até cair? – Tom sugeriu. – Acho que estou a precisar.

- Por mim pode ser, vamos alegrar a noite! – Bill concordou batendo palmas. – E dançar e tal... Pode ser? – voltou-se para Silvie e Joe.

- Yup. – ambos concordaram, no entanto Silvie fazia tudo menos tenções de beber. Tinha demasiadas tendências para o dramatismo do seu passado quando bebia à séria.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

[ 23 ]



Bill tinha-se levantado relativamente cedo para ir buscar Joe ao aeroporto. Estava em pulgas de saudades e com os nervos em franja por não saber o que esperar. Tom tinha sido claro na noite anterior, iria aceitar a escolha dele mas Bill conhecia-o demasiado bem para saber que Tom não seria assim tão fácil de convencer.

- Não vou ser apanhado de surpresa com nada, pois não? – Joe perguntou enquanto Bill lhe mostrava a pequena casa que iriam partilhar.

- Como assim?

- O teu irmão.

- O Tom está mansinho. Ou pelo menos eu assim o espero! – desabafou.

- Não era suposto ele estar aqui? – sentou-se sobre a cama olhando Bill.

- Está em casa da Silvie, tu vais adorar conhecê-la! – disse feliz esquecendo Tom e todas as preocupações. – Ela é lindíssima e de certeza que a vais reconhecer!

- Ya, alguém que já te comeu estou super interessado. – ironizou.

- Não sejas assim, Joey. – sentou-se ao lado dele – A Si já não é nada para mim, somos só grandes amigos. A Si é toda do Tom! – sorriu ao lembrar-se novamente da maneira como fugiam os dois ao assunto – Mas eu já te tinha dito isso, várias vezes até! – arregalou-lhe os olhos – Não tens que te preocupar.

- Falar é fácil.

- Meu, - levantou-se de repente – tu anima-te! Estou farto de depressões! – refilou.

- Que macho! – riu-se da atitude dele. – Meu! – imitou-o – Lindo! – riu-se novamente agarrando-se ao estômago, nunca tinha visto Bill agir assim. Bill acompanhou-o.

- ‘Bora! – puxou-o pela mão.

- E vamos…?

- A casa da Silvie!

[…]

Tom estava na varanda de casa com uma caneca de café nas mãos e um par de boxers vestidos. – Está um dia lindo… - suspirou.

- Dizes isso como se estivesses na Alemanha e haver sol fosse coisa rara. – Silvie riu-se juntando-se a ele com uma taça de cereais e a camisa de Tom, da noite passada, vestida.

- Ai a Alemanha! – suspirou novamente sentando-se ao lado de Silvie numa das cadeiras existentes.

- Tás muito suspirativo hoje! – gozou-o.

- Apetece-me, há alguma coisa errada nisso? – olhou-a bebendo um golo do café.

- Ná. – levou uma colher de cereais à boca e olhou o horizonte. Sabia-lhe bem estar ali sentada com Tom sem ter que pensar em nada naquele momento. – A que horas é que o Bill disse que o rapaz vinha?

- Não disse. – suspirou novamente.

- Oh Tom a sério, - riu-se – pareces uma mulher desesperada por sexo sempre a suspirar! – gozou-o novamente. Tom virou-se para ela.

- Primeiro: não sou mulher. Segundo: não sou desesperado por sexo. – deu-lhe um encosto na colher fazendo os cereais espalharem-se pelo seu colo. – Si, sujaste-me a camisa! – refilou tentando conter o riso.

- Desculpa?! – levantou-se pousando a taça no chão e sacudindo o leite da camisa.

- Não sei se desculpo. – sorriu-lhe angelicalmente. – E acho melhor despires isso… - levantou-se e aproximou-se dela, começando a desapertar, um a um, os botões da camisa - … ainda te constipas com o leite e eu não quero! – beijou-lhe o pescoço.

- E eu a pensar que não eras desesperado por sexo! – Silvie afastou-o.

- Si, Tom!! – ouviram Bill chamar por eles. Silvie voltou a apertar os botões e fez sinal a Bill.

- Calminha, ok? – Silvie virou-se de costas para eles e fez Tom olhá-la nos olhos. – Lembra-te do que falámos ontem! – Tom acenou afirmativamente e Silvie beijou-lhe rapidamente os lábios.

- Bom dia. – Joe sorriu meio envergonhado depois do “Bom dia!” entusiasta de Bill.

- Joe é o Tom e a Silvie. Silvie e Tom é o Joe. – Bill fez as apresentações. Tom apertou a mão de Joe meio contrariado, podia concordar perfeitamente com o que Silvie lhe tinha dito na noite passada, mas ele próprio tinha alguns limites, só não sabia era defini-los. Já Silvie deu dois felizes beijinhos ao rapaz e terminou num abraço. - Porque é que eu tenho a impressão que viemos interromper alguma coisa?

- Não vieram interromper nada, a Silvie é que se estava a armar! – Tom respondeu picando-a.

- Era isso, era. – olhou-o de lado – Entrem!

- Desculpa, mas… - Joe hesitou olhando Silvie – tu és a Silvie Ports, não és?

- Oh, eu disse-te que a ias reconhecer! – disse Bill entrando e sentando-se num dos sofás.

- Sim, sou eu. – disse meio atrapalhada – Conheces-me?

- Claro! Excelente modelo, mulher! Parabéns! – disse entusiasmado.

- Oh, obrigada. – disse envergonhada. Tinha orgulho do seu trabalho e era sempre gratificante receber elogios daqueles, mas ficava quase sempre encavacada quando não conhecia. – E tu o que é que fazes? – perguntou para meter conversa.

- Designer de interiores! – disse com um sorriso olhando a rapariga.

- E faz um excelente trabalho! – Bill disse orgulhoso.

- Acredito. – Tom balbuciou, ninguém se apercebeu. – Há quanto tempo? – perguntou olhando o irmão.

- Há uns 3 anos, quando acabei o curso. – Joe respondeu estranhando a troca de olhares entre Bill e Tom.

- Por acaso era uma coisa que eu também não me importava de fazer… - Silvie mandou p’ró ar.

- Nota-se pela tua casa. Tens bom gosto! – olhou em redor. – Também não fosses tu modelo!

Ela riu-se. – Às vezes ser-se modelo não quer dizer que se tenha bom gosto. A maior parte das vezes não somos nós que escolhemos o que vestir, mesmo no dia-a-dia há sempre alguém que te maquilha e te veste… - explicou.

- Tu eras assim? – perguntou estranhando.

- Não, sempre neguei essas coisas, aliás, eu sempre neguei tudo o que me impunham para ser sincera. – suspirou e Tom olhou-a. Havia sempre um segundo sentido em todas as frases dela.

- Eu acho que isso é bom. – Joe falou. – Revoltarmo-nos com as coisas da vida é a melhor razão de viver. Qual é que era a graça disto tudo se pelo caminho fosse tudo facilitado? – Tom olhou Joe com um novo olhar. O rapaz tinha uma visão da vida bastante semelhante à sua e à do seu irmão e naquele pequeno instante sentiu um novo apreço por ele. Se o rapaz pensava da mesma maneira que ele próprio certamente não seria assim tão má pessoa.

- Concordo contigo. – Tom acenou afirmativamente e Bill sorriu. Sabia perfeitamente que assim que a conversa fluísse e Joe começasse a falar dos seus ideais Tom amoleceria. Se Bill era apaixonado por aquele rapaz por alguma razão em especial seria.

- Ya, ya. – Silvie concordou também com a situação mas estava mais empolgada em falar com Bill sobre a noite anterior. Precisava de alguém que a ajudasse na moda. – Bill, preciso de ajuda! – Tom riu-se pela maneira como ela falou, estava em pulgas para falar com Bill sobre o seu projecto.

- Para…?

- A moda!

- Como assim?

- Eu já te tinha dito que ia tentar voltar à moda e regressar à minha vida como modelo, não já? – perguntou.

- Sim, e como estilista. – Bill acenou afirmativamente recordando a noite que tinham passado a conversar sobre esse assunto, enquanto Tom dormia e se babava no sofá. Riu-se com a recordação. – Mas já tens datas, é?

- Não. Preciso que me ajudes a voltar.

- Eu? Não valho nada no mundo da moda, miúda! – exclamou.

- Tens uma linha própria de roupa e acessórios…

- Isso não é nada, se queres que te seja sincero. Porque é que não falas com antigas marcas com quem já trabalhaste? – disse, até gostava de ajudar mas não estava a ver o que é que poderia fazer com aquilo que já tinha no mercado.

- Porque… - Silvie explicou-lhe aquilo que tinha dito a Tom na noite anterior. Bill ficou com cara de parvo a olhar para ela.

- Pode-se fazer isso? – perguntou referindo-se a Marcele.

- Claro! Desde que se tenha poder pode-se fazer de tudo em todo o lado.

- Eu acho que se fores brilhante, independentemente daquilo que circula entre os grandes da moda, chegas lá novamente. – Joe opinou. – Eu acompanhei o teu trabalho ao longo dos anos… - confessou meio envergonhado, era um prazer estar na presença dela - … a especulação do teres saído daquele mundo daquela maneira continuou e ainda continua, na maior parte das vezes em termos muito pouco ortodoxos, mas o teu trabalho… - fez uma pausa sorrindo na direcção dela - … o teu trabalho é intemporal, imortalizaste montanhas de coisas, deste vida a várias marcas que sem o teu trabalho nunca tinham vingado. Eras uma das melhores e quer queiras quer não vais continuar a ser sempre e isso ninguém te pode tirar. Já para não falar que estás melhor que nunca! – apontou o corpo dela. – Se queres voltar, vais conseguir.

Silvie tinha um sorriso orgulhoso e emocionado nos lábios. Queria falar mas era-lhe impossível.

- Eu acho que ele tem razão… - Tom virou-se na direcção dela. Ela não descolava o olhar de gratidão de Joe. – Vais acabar aquilo que tens em mente nas criações e com ou sem Bill vais tentar!

- E vais conseguir! – Joe repetiu-se sorrindo. Bill olhou o seu pseudo-namorado. A cada dia que passava ele mostrava um novo lado tão parecido consigo que até arrepiava.

- Espera… - Bill lembrou-se. - … eu posso contratar-te como modelo! Da nova linha de lingerie que vou lançar! Que estúpido como é que não me lembrei disto antes! – martirizou-se mentalmente. Lá por não ter hipóteses em ajudá-la naquilo que já tinha no mercado não queria dizer que aquilo que estava para vir levasse o mesmo caminho. – Lembras-te de te ter falado disso?

- Não… tu falaste-me nisso?

- Que parvo, caraças!! – tirou o telemóvel do bolso, levantou-se do sofá e fez uma chamada à qual ninguém percebeu o propósito. – Sim? Fala Bill Kaulitz!... Bem, obrigado e a senhora?... Muito bem eu tenho umas coisas de última hora para lhe dizer!... à modelo de lingerie, ainda dá para trocar?... Mas é mesmo essencial que me faça esta mudança!! Por favor!... Ainda bem, eu depois acerto os pormenores quando voltar das férias, marque-me uma reunião e avise-me o quanto antes!... Obrigado, bom dia! Com licença. – desligou. – Vens connosco no fim das nossas férias! Consegues ter as tuas coisas preparadas até lá?

Silvie ficou um bocado suspensa no ar sem ter pistas daquilo que estava a acontecer. Teria Bill acabado de trocar a outra modelo por… si? – Explica-me o que acabaste de fazer!

- Isso mesmo que estás a pensar! Vais ser tu a apresentar a minha colecção de roupa interior feminina!

domingo, 13 de novembro de 2011

[ 22 ]

Desculpem a demora, mas eu sou preguiçosa e diga-se que me anda a faltar a imaginação xD
Beijinho e obrigada ao Anónimo!



- Tu. – Silvie sentiu a voz falhar cravando o seu olhar no de Tom.

Ele sorriu, fazia uma pequena ideia disso. Encostou os lábios ao ouvido dela e sussurrou: – Então pára e esquece-o, eu não vou a lado nenhum, Si.

- Vais, - abraçou-se mais a ele – e isso assusta-me.

- Vou? – perguntou passando os dedos pelos cabelos laranja da rapariga. Silvie começava a dar-lhe a conhecer muito melhor o seu lado mais frágil e vulnerável. Até àquele ponto Tom praticamente só conhecia a mulher lutadora, sensual e destemida que lhe preenchera o dia e as noites.

- Vais embora da ilha, Tom. Vais voltar para a tua rotina, vais acabar as férias, vais sair daqui… - fechou os olhos.

- E tu também vais. Tens um regresso em grande para fazer, lembras-te? – fê-la olhar para si. – E eu vou ajudar. – garantiu.

- Eu tenho planos, - levantou-se do sofá e dirigiu-se ao armário em frente retirando de lá uma folha A3 – mas isto não se concretiza se não tiver tudo traçado ao pormenor. Eu disse-te que tinha tudo encaminhado, e não menti!, mas para voltar com um “boom” eu preciso de mais. – estendeu a folha sobre a mesa de café em frente. Tom sentou-se na borda do sofá de modo a alcançar a folha. Silvie ajoelhou-se ao lado de Tom. – Estás a ver isto? – apontou a folha no geral em que figuravam meros traços e riscos que para Tom eram totalmente aleatórios, em conjunto com listas e listas de coisas escritas.

- Ya. – disse meio sem perceber.

- Eu tirei isto de umas das malas do Marcele antes de me vir embora.

- E o que é isso? – apontou a folha reparando em algo escrito. – O que é que diz?

- São todas as marcas com quem eu já trabalhei, para quem já desfilei, para quem já pousei e os diversos tipos de roupa e acessórios que eu usei nessas marcas e nesses trabalhos. – explicou.

- Hum, e então? – Tom não estava mesmo a perceber. – Eu e a moda não nos damos muito bem no que toca a negócios, tens que ser explícita.

- Ya, e juntando a isso és homem, vocês nunca percebem as indirectas! – disse em modo de desabafo. Tinha cicatrizes extremamente profundas provocadas por um rapaz apenas, rapaz esse que ainda hoje permanecia em si e a fazia cometer muitas loucuras, mas não se tinha negado aos restantes homens no mundo, antes pelo contrário.

- Hey! – protestou.

Ela riu-se. – Desculpa, não tens culpa de ser demasiado primitivo! – gozou.

- Estás a pedi-las, não estás? – ameaçou com um sorriso brincalhão.

- Depende, - sorriu-lhe - mas voltemos a isto. – apontou a folha. – Se tu reparares há algumas marcas a negrito…

- Ya. – Tom concordou – E?

- Eu quando desisti de tudo e consegui esta folha fiz uma pesquisa pelas pastas do Marcele, no computador principalmente, e pelas diversas páginas de acesso das empresas em questão e de outras coisas que não interessam ao caso, e descobri que todas elas tentaram ter-me como cara, modelo de campanha e assim. – olhou Tom e riu-se ao ver que ele não estava a apanhar. – És mesmo mau nestas coisas, fogo!

- Não me ataques, pá! E explica lá… vais contactar essas empresas e começar por elas?

- Há umas duas semanas, mais coisa menos coisa, fiz um telefonema anónimo para todas elas. Mencionei o meu nome e perguntei se, por acaso, não estariam interessadas em ter a Silvie Ports por entre as suas modelos de elite… - Silvie gesticulava - … e quem sabe como estilista…

- Quais foram as respostas? – Tom perguntou curioso.

- Todas elas ficaram interessadas e algo surpreendidas porque era um nome que ainda voava pelo mundo da moda apesar de com pouco peso, no entanto todas elas estavam de pé atrás. Diziam-me que a Silvie tinha sido expulsa do mundo da moda por motivos que não quiseram mencionar e que o mais provável era ela nunca mais ter hipóteses neste mundo, que estavam proibidos de falar sequer dela. A única coisa que ela ainda tinha era a excelente cumplicidade com as câmaras e os diversos trabalhos intemporais, para usar as palavras deles. Uma das senhoras usou a comparação à excomunhão! Até me arrepiei.

- Foi o Marcele, não foi?

- Ele prometeu que o faria… - pousou os cotovelos sobre a mesa e a cara nas mãos. - … as palavras daquele dia foram: “Se desistes agora, desistes para sempre.” E ao que parecia não estava a brincar. – suspirou.

- Eu sei que talvez não seja grande coisa mas… - olhou-a em mistério - … não seria mais fácil aliares-te a alguém sem ser nenhuma dessas marcas?

- Hum, tá bem e quem? – perguntou como se a batalha já estivesse perdida.

- O meu irmão. – encolheu os ombros como se nada fosse e o seu sorriso não o denunciasse.

- O Bill! – levantou-se de repente. – Claro! O Bill pode ajudar-me! – pegou no casaco e dirigiu-se à porta.

- Onde é que tu vais? – Tom perguntou vendo-a mexer-se rapidamente.

- Falar com o Bill! – respondeu como se fosse óbvio.

- Ya, - Tom olhou o relógio que nem mesmo nas férias abandonava o seu pulso – às 3 e meia da manhã?
Silvie largou a maçaneta da porta. – Pois é capaz de não ser boa ideia. – despiu o casaco e sentou-se ao lado de Tom. – Mas amanhã não me escapa! – exclamou.

- Sim, sim isso se amanhã ele não andar demasiado ocupado… - suspirou.

- Han? O que é que vai acontecer amanhã? – virou-se de lado e observou Tom levar as mãos à cara.

- O amiguinho dele chega amanhã. – olhou-a. – Lembras-te?

- Pois é! – ela levou a mão à testa. – Tinha-me esquecido. Estou mesmo curiosa para o conhecer! – recostou-se no sofá com um sorriso.

- Ai sim? – perguntou com desprezo na voz.

- Vais ter que te habituar. Tenho a impressão que o Bill já fez muitas coisas na vida que tu não aprovavas e, de certeza, que não ficavas dessa maneira!

- Isto é diferente. – disse em tom de desabafo. – O Bill sempre sonhou em encontrar a alma gémea e sempre acreditou naquelas fantasias todas do amor à primeira vista e blá blá blá, - olhou Silvie - sempre foi extremamente sensível a esse assunto e sempre se recusou a andar com quem quer que fosse que não sentisse uma química ou uma ligação diferente… sempre criticou o meu estilo de vida e sempre pôs as mulheres num patamar que eu raramente me apercebia que lá estava… - levantou-se andando pela sala – É estranho vê-lo agora totalmente embeiçado por um gajo quando toda a vida teve casos com mulheres! Sim, porque lá por ele nem sempre admitir a todos nunca foi santo nenhum, antes pelo contrário! E isso é que me fazia comichão quando me criticava! – encostou a testa ao armário.

- O Bill é um homem elegante, lindíssimo por dentro e por fora e grande parte das mulheres deste mundo e do outro davam a vida pela beleza dele mas isso não o impede de ter um interior diferente daquilo que toda a gente espera! – Tom não estava a perceber o ponto dela, mas não se mexeu e deixou que ela o abraçasse pelo abdómen e pousasse o queixo sobre o seu ombro. – Acima de tudo e de todos estás tu no coração dele, vê-se à distância!, e um dos objectivos dele será agradar-te. Eu sei que parece estúpido, estranho, uma fantasia que fiz à pressão mas pensa, Tom, pensa em tudo o que ele já fez por ti e para ti. Em tudo o que já passaram juntos e em tudo aquilo que tu próprio farias por ele. Vocês davam a vida para ver o outro bem e estável. Não estragues tudo isso agora, não lhe cortes as pernas à felicidade só porque não concordas ou te mete nojo ou seja o que for. Aceita a situação como ela é. Aceita o rapaz que vier amanhã por respeito ao Bill, não ao rapaz. – deixou-lhe um beijo no pescoço.

Tom virou-se e pousou uma mão na cintura da rapariga e outra na sua face. – Tu és qualquer coisa, miúda. – beijou-a num enlace calmo, sentido e estruturado de lábios, um beijo estudado e adaptado apenas a ela.

- Vamos para a cama? – ela perguntou ao quebrar o beijo.

- Não tenho sono. – Tom respondeu pondo-lhe uma madeixa de cabelo atrás da orelha.

- Eu também não disse que íamos dormir… - sorriu-lhe matreiramente e Tom riu-se dela.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

[ 21 ]


Tinha regressado a casa quando não viu Silvie na sua varanda. “Talvez tenha mesmo ido ter com o Tom.” Bill estava feliz. Parecia que o Universo conspirava a seu favor no que tocava a assuntos do coração, coisa que não acontecia à anos. No entanto, as reacções de Tom deixavam-no apreensivo. Como é que ele iria reagir a Joe? Como é que iria aguentar a pressão? Não tinha certezas do que é que Tom era capaz de fazer e isso assustava-o, porque Tom era seu irmão gémeo e nunca na vida tinha tido aquele tipo de problema com ele. Nunca Tom tinha pensado que ele não confiava em si e isso dava-lhe cabo da alma. Se tinha o coração preenchido tinha a alma quebrada, se tinha o coração deserto tinha a alma intacta. Será que não havia uma única hipótese na Terra de conjugar as duas coisas positivamente? Deu meia volta e voltou para sua casa, talvez Tom estivesse por lá e quem sabe pudessem conversar como devia ser.

~

Depois de ter respirado fundo 500 vezes e ter visto o pôr-do-sol por tempo demais, Tom Kaulitz levantou-se da areia e decidiu ir ter com o irmão. Apesar de todas as coisas que lhe faziam comichão quanto à sexualidade de Bill ele sempre fora a pessoa que nunca o julgara e diga-se de passagem que Tom sempre levara uma vida boémia ao quadrado, ou talvez até mesmo ao cubo, aturá-lo nunca era fácil. No entanto, Bill consegui essa proeza. Se Tom não fosse capaz de aceitar o irmão da maneira que ele verdadeiramente era não merecia o título de irmão.

Viu luz da janela como tal Bill estaria em casa.

- Bill? – Tom chamou ao não o ver na sala.
- Na cozinha. – Bill respondeu estranhando, só esperava que ele não fosse fazer mais filmes onde eles não existiam.
- Podemos falar? – Tom sentou-se à mesa vendo Bill de volta dos tachos e pedindo mentalmente para que mantivesse a calma e deixasse os meus preconceitos de parte.
- Se não fores estúpido e otário por mim é na boa… - encolheu os ombros, se ele não queria compreender Bill também não iria andar com ele ao colo. Já tinha sofrido demasiado com toda esta situação, apesar de nem sempre o demonstrar.
Tom respirou fundo. – Desculpa… - baixou o olhar - se é isso que realmente queres…
- Tu já fizeste essa conversa uma vez, Tom, e depois não o cumpris-te, aliás desrespeitaste-me para além disso! – Bill interrompeu-o continuando a mexer nos seus tachos tentando desprezar Tom.
- Eu sei, mas desta vez…
- Não sei se acredito! – interrompeu-o.
- Então olha para mim, caraças! Olha-me nos olhos! – Tom levantou-se e Bill virou-se para ele.
- Fala. – cruzou os braços e encostou-se á bancada, vendo Tom dirigir-se a si.
Tom hesitou. Estava quase peito com peito com Bill e aquelas coisas nunca acabavam bem, sabia por experiência. – Eu admito que não gosto, que não concordo, que me faz comichão, que me deixa a pensar aquilo que tens feito ao longo da tua vida sabendo isso, - esbracejou - que me enerva não me teres dito mais cedo e acumulado a isso que me tenhas escondido a verdade e me tenhas evitado, - apontou-lhe o dedo, explodindo sem pestanejar - mas és meu irmão, és meu gémeo, és a pessoa que mais gosto no mundo, és demasiado importante, és… és tu! – voltou repentinamente a si, vendo muitas das cenas com Bill passarem-lhe à frente dos olhos.
Bill pousou as mãos sobre os ombros de Tom. – Desculpa ter-te escondido, mas eu sabia como ias reagir, sabia que não ias conseguir lidar com a situação e a minha intenção era apenas proteger-te. – sorriu-lhe fracamente – Para umas coisas és muito moderno, para outras és um autêntico casmurro e nas maior parte das vezes consegues ser um otário do tamanho do mundo!
- Isso não é desculpa, - olhou-o seriamente - mas de certo modo… - hesitou - obrigado. – desviou o olhar por momentos. – E desculpa. – voltou a olhar para Bill e desta vez fora sentido. – A sério.
Bill sorriu e abraçou-o. – Não me voltes a fazer isto! Odeio estar chateado contigo!
- Foste tu o culpado! – atirou enquanto apertado Bill nos braços.
- Porquê? – largou-o de repente. – Por ser gay? – testou-o semi-cerrando-lhe os olhos.
- Não, - sorriu percebendo a deixa - por me não me teres incluído nos teus pensamentos e incertezas!
- Hum. Safaste-te bem com essa resposta. – sorriu.
- Mas é a verdade! – retorquiu. – Então e quando é que o gajo vem, mesmo?
- Chega amanhã. Vais mesmo para casa da Silvie? – perguntou.
- Sim, vocês ficam com mais espaço e eu evito dar de caras com aquilo que não quero ver. – brincava com o garfo, depois de se ter sentado novamente à mesa.
- Nós não vamos propriamente andar aí a… - foi interrompido.
- Não interessa, tu ficas com o teu tempo e o teu espaço e eu fico com o meu. – levantou os braços não querendo ouvir pormenores.
- Em casa da Si.
- Sim, eu de certo modo já lá tenho o meu espaço. – sorriu inconscientemente.
- Quando é que vocês se admitem? – riu-se. – Tu aí todo sorrisos ela fica toda vermelha quando se fala de ti…! – sentou-se à frente dele pressionando-o com o olhar.
- Admitir o quê? – perguntou olhando o irmão.
- Ok, Tom! – riu-se novamente e dirigiu-se aos tachos a ver se não queimava o jantar. Tom suspirou.
- Isso demora muito? – perguntou. – Tenho que ir falar com a Silvie, depois.
- Ya, ya maninho. – não conseguia conter-se no riso. Era tão notório que aquilo que eles tinham começava a ser mais que sexo dia sim, dia não.

[ … ]

- Estás bem? – depois de duas horas de filme em que Silvie não parava quieta no sofá Tom achou que fazia bem perguntar. – Estás muito inquieta, isso não é normal…
- Não! Estás a ver coisas. Eu estou bem! – levantou-se e deu uma volta sobre si mesma. Ele olhou-a desconfiado, aquela treta toda só para dizer que estava bem significava certamente o oposto. – Que foi? – pousou as mãos na cintura.
- Tu és tipo as crianças, Si, fizeste alguma coisa que não devias… - ela riu-se.
- Como as crianças? Essa ‘tá boa, Tommy. – abanou a cabeça da esquerda para a direita e voltou a sentar-se, encostando-se cuidadosamente ao corpo de Tom.
- Estás assim por causa do namorado do Bill? – perguntou - E das minhas reacções? – acrescentou
- Não, eu não tenho nada, homem! – respondeu – E estou muito bem relativamente ao namorado do Bill.
- É por eu vir viver contigo?
- De certo modo até estou feliz por vires viver comigo… - sorriu-lhe perversamente pousando o queixo sobre o peito definido de Tom.
- Hum, isso agrada-me… - beijou-a. – Mas então podes ser verdadeira comigo, o que é que se passa?
- Não se passa nada! Ai que chato! – refilou afastando-se dele, cruzando os braços.
- Ai que chato! – imitou-a, deitando-lhe a língua de fora e dando-lhe um encosto nas costelas. Elas encolheu-se num reflexo, ao sentir a mão de Tom atingir os cortes daquela tarde. – Não acredito. – Tom apercebeu-se. Aquilo explicava a inquietação e a vontade em que ele pensasse que estava realmente tudo bem. – Outra vez?!
- Outra vez o quê? – ela perguntou como se nada fosse, encolhendo-se. Tom levantou-se e posicionou-se à frente.
- Tira o top. – pediu numa voz autoritária pondo as mãos nos bolsos das calças. Silvie fechou os olhos e por muitas piadas de valor sexual que lhe tivessem passado pela cabeça não valia a pena dizer nenhuma. Ao que parecia já não conseguia guardar as asneiras de Tom, para ele Silvie era um livro aberto em que ele próprio escrevia grande parte das linhas.
Silvie levantou-se e tirou o top. Passou o braço esquerdo por trás do pescoço e virou-se lateralmente para Tom. A gaze ensanguentada que tapava os cortes não deixava muito à imaginação.
- E desta vez foi porquê? – Tom perguntou retirando-lhe a gaze tendo intenções de olhar os cortes e substituir a gaze.
- Pelo mesmo do costume. – encolheu os ombros e travou um suspiro ao sentir as mãos dele em contacto com as suas costelas.
- Mas… isso não te vem à cabeça assim do nada… - disse dirigindo-se à casa de banho onde sabia ela ter uma caixa de primeiros socorros. Silvie olhou as próprias feridas, no vidro do armário em frente. Suspirou.
- O Bill fez uma insinuação e eu… - interrompeu-se.
- E tu? – perguntou desinfectando os cortes.
- E eu deixei-me cair em pensamentos que já deveriam ter sido esquecidos. – deixou uma lágrima escorrer pela sua face morena. Tom cobriu os cortes com uma gaze limpa revestida de um cicatrizante.
- Jack outra vez? – perguntou a medo não querendo estar a expor ainda mais a verdadeira ferida dela.
- Podemos não falar disso? – pediu voltando a vestir o top e a sentar-se totalmente encolhida no sofá.
- Desculpa. – Tom sentou-se ao lado dela e colocou um braço à volta dos seus ombros, ela pousou a cabeça no seu peito, sentindo-se protegida. – Eu sei que é difícil perder-se alguém de quem se gostava tanto, mas… não há nada neste mundo que te consiga fazer esquecê-lo? – beijou-lhe a testa.
- Até há… - olhou Tom seriamente nos olhos e sentiu o seu coração sair-lhe pela boca.
- O quê? – a esperança dele era óbvia e totalmente notória nos seus olhos chocolate.
- Tu.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

[ 20 ]



Faltavam exactamente 12 dias para acabarem as férias. Tom estava sentado nas escadas a contá-los, parecia um totó a fazer contas de cabeça, mas o facto de faltarem tão poucos dias naquela ilha deixava-o de certo modo preocupado. E Silvie? O que é que ela faria sem eles? Sabia que ela precisava da sua ajuda para conseguir regressar dos mortos, figurativamente falando claro, mas ele também se tinha habituado a tê-la por perto, não apenas como uma fonte de (muito) bom sexo mas, como um porto de abrigo. Cada vez que discutia com Bill era para lá que ia, cada vez que acontecia alguma coisa que não estava escrito no seu guião era até ela que se dirigia, era nela que abastecia a sua barra de energia e era com ela que a gastava quando Bill não estava ao telemóvel com o tal amigo. Só há dois dias é que Tom descobrira o porquê de tanto telemóvel colado ao ouvido e tantas vezes por dia… e essa ideia ainda não lhe agradava. Sinceramente, fazia-lhe demasiada confusão.

- Posso perguntar o que é que estás a fazer aí sentado há séculos a contar pelos dedos? – Silvie apareceu à porta envergando um top e uns calções. – Perdeste alguma coisa? – sentou-se ao seu lado.

- Estou quase a ir embora… - olhou-a. Silvie abriu um sorriso de solidariedade com ele.

- Quanto tempo tens? – perguntou.

- 12 dias.

- Tempo de sobra, meu caro.

Tom olhou-a mais atentamente, ela tinha alguma na manga. – E o teu trabalho? Quem tira as fotos? Quem te atura? Com quem falas?

- Não estava morta antes de tu aqui chegares, pois não?

- Não. – respondeu não percebendo.

- Então também não vou morrer quando tu te fores embora.

- Vais, no sentido figurativo da palavra.

- E porquê? És o meu motor de combustão ou assim? – riu-se.

- Mais ou menos. – sorriu ao vê-la rir. – Quem é que te vai ajudar no trabalho? Silvie tu estás longe de acabar todas as colecções! – disse.

- Não, não estou. As noites servem para alguma coisa…

- Tu trabalhas durante a noite? – perguntou, começara a dormir várias vezes com ela e nunca tinha dado conta de nada.

- Digamos que não estás sempre comigo e quando estás tens o sono pesado! – riu-se.

- Mas isso quer dizer que tens tudo… feito?

- Não tenho tudo, mas o essencial está terminado.

- A sério? – perguntou, não acreditava.

- Sim, a sério!

- Então… - foi interrompido por Bill que berrava pelos dois a uns 100metros deles.

- TOM, SILVIE!!! – Bill vinha numa correria desmedida.

- Bem… - Silvie riu-se - … deve ser importante para ele vir a correr! – Tom riu-se.

- Que é que foi oh lingrinhas? – Tom perguntou.

- Tenho um anúncio.

- Hum, porque é que ultimamente essas coisas me dão volta ao estômago? – Tom perguntou retoricamente.

- Tom! – Silvie acotovelou-o e Bill fez de conta que não ouvira. Tom parecera mais compreensivo do que aquilo que na verdade era. – E que anúncio é esse? – ela sorriu-lhe.

- O Joe… - fez uma pausa dramática para observar qual era a reacção de Tom. - … vem passar os últimos dias de férias connosco! – Bill pulou e bateu palmas, aquilo que normalmente fazia quando a felicidade extrema se apoderava de si. Não podia esperar que Joe viesse ter consigo.

- Posso mudar-me para tua casa? É que dispenso certas coisas. – Tom ignorou Bill completamente e virou a cabeça para Silvie. Ela olhou-o percebendo que não estava a ser de todo fácil para Tom aceitar o novo estilo de vida do irmão, mas também não podia ser assim tão má para Bill e aceitar Tom de braços abertos em sua casa sabendo os custos psicológicos que Bill estava a pagar à conta da homofobia de Tom. Que é que respondia?

- Aahh… - Bill viu-a na dúvida.

- De certo que ela não se importa. – respondeu por ela.

- Mas Bill… não era melhor ele dar-se com o Joe? – perguntou.

- Porque é que eu havia de me dar com o Joe? – Tom perguntou.

- Para todos os efeitos é o amor do Bill. É como se fosse uma gaja! E se fosse uma gaja e fosse namorada do teu irmão tu certamente irias querer conhecê-la e saber mais sobre ela! – Silvie respondeu, dando o pondo da questão.

- Ok, mas não existem “ses” nesta história porque ele não é uma ela. – cruzou os braços.

- Ficas comigo mas acredita que não te escapas de o conhecer minimamente! Até porque eu também quero saber quem é o sortudo que roubou o coração do Billocas! – riu-se saltando das escadas e abraçando-se ao pescoço do rapaz. – Espero que sejas feliz. – sussurrou-lhe ao ouvido.

Bill retribuiu o abraço com a mesma força que ela lhe transmitia e encaixou o rosto no seu pescoço. Já que Tom não lhe dava o apoio que precisava sabia que podia contar com aquela miúda para tudo. – Obrigada, minha querida. – sorriu ao afastar-se dela e depositar-lhe um beijo rechonchudo sobre a bochecha.

- Então e quando é que ele vem?

- Amanhã, em princípio. Foi tudo arranjado em cima da hora…

- Por causa dele? – Silvie apontou o dedo a Tom.

- Porque é que é tudo por causa de mim?! Importam-se de me explicar porque é que sou sempre eu a causa de tudo? E porque é que sou sempre eu o último a saber das coisas? E porque carga de água é que eu tenho culpa de as coisas entre vocês terem sido arranjadas em cima do joelho?! São capazes de se explicar? – Tom explodiu, estava farto de que o irmão o colocasse abaixo da linha de confiança dita normal.

- Tom…! – Silvie abateu-se sobre si mesma ao vê-lo explodir daquela maneira por razões que não mereciam, mas notava pela tensão que Tom vivia nos últimos dias que muita coisa se acumulara.

- Nada! – respondeu não lhe querendo dar ouvidos e saltou das escadas correndo pela praia fora.

Não percebia porque é que ninguém confiava nele para lhe contar o que se passava, não percebia porque raio é que ninguém parecia querer metê-lo nas conversas e nos acontecimentos. Desde o início daquelas férias que qualquer coisa lhe fazia comichão e só a descobrira quase no final, não era normal. Bill parecia que o tinha posto de lado nas suas decisões e que tomara a liberdade de se desfazer dele como uma opinião e um ouvinte. Naquele momento já não queria saber qual era a orientação sexual do irmão, queria apenas que ele tivesse tido a confiança necessária, e que sempre lhes foi característica, para lhe contar o que é que o andava a atormentar. Tom só queria que Bill lhe dissesse na cara o que era, como fazia todas as vezes. Queria que ele o tivesse vindo acordar a meio da noite para o obrigar a ouvi-lo e ajudá-lo a ultrapassar a dor ou o problema que fosse. Queria que o tivessem em consideração e não o achassem um bebé.

- Até ela… - Tom deitou-se sobre a areia molhada despindo a t-shirt e ficando meramente em calções de banho. Até Silvie parecia tê-lo em baixa consideração e isso era ainda pior que sendo o irmão a fazê-lo. Praticamente não a conhecia mas a ligação que sentia com ela era qualquer coisa de especial, de diferente e de bom. Tinha a sensação de que se Bill lhe dissesse para se atirar de uma ponte ele nunca o faria e ainda o mandava dar uma volta mas que se fosse Silvie a dizê-lo, era mais que certo. Respirou fundo e mirou as nuvens. Era lá que se sentia muitas das vezes que partilhava momentos com ela, nas nuvens. – Merda. – virou-se de barriga para baixo e encostou a testa nos braços cruzados. Não podia estar a deixar-se levar por alguém que provavelmente não voltaria a ver tão cedo.

~

- Achas que ele fica bem? – Silvie perguntou a Bill sentado ao seu lado nas suas escadas.

- Acho. Mais cedo ou mais tarde volta.

- Tens a certeza?

- Se não achas, vai atrás dele. – Bill sorriu-lhe. Silvie riu-se, ele percebia bem o que é que ela via a mais em Tom. – Eu acho que ele não se importa que tu vás ao encontro dele. Da mesma maneira que tu não te importavas que ele fosse ao teu encontro.

- Assim só por acaso, Bill… - olhou-o com cara de gozo - … estás a tentar juntar-me ao teu irmão? – riu-se.

- Achas que preciso? Vocês já se juntaram! – sorriu-lhe dando-lhe um beijo na testa sentido o telemóvel tocar no bolso dos folclóricos calções. – Já venho! – ela sorriu ao vê-lo saltar das escadas com um sorriso do tamanho do mundo.

Silvie tinha noção de que começara a olhar para Tom de uma maneira diferente à dois dias atrás, depois da noite e da manhã que tiveram, só sentira aquilo uma única vez na vida e essa pessoa estava morta. Entrou em casa e fechou-se no quarto. Odiava relembrar o seu passado, especialmente aquele pedaço de passado. Jack sempre fora o seu ponto mais fraco. Mesmo passado tanto tempo aquela ferida continuava por sarar.
Abriu a primeira gaveta da cómoda e retirou o x-ato de uma das caixas. Não suportava a dor de relembrar coisas que já deveriam ter sido esquecidas há muito.