domingo, 15 de agosto de 2010

OS: Uma aventura na morgue.



Com que então era àquilo que chamavam de cadáver. Algo com pele de cor branca arroxeada, de olhos esbugalhados e sem qualquer tipo de vida, os cabelos e os pêlos dos braços encontravam-se gelados e em pé, tal como se a pessoa em questão estivesse arrepiada ou chocada.
Inspirou fundo e percorreu o corredor branco para fora daquele sítio, nunca achou piada a filmes de terror e muito menos gostaria de viver um. Despindo a bata branca, que lhe fora concedida há pouco mais de uma hora, entregou-a a um dos outros médicos (devia chamar-lhes assim?) que lhe sorria.
- Gostou? Vai servir-lhe para o trabalho? – perguntou simpaticamente.
- Sim. – sorriu, nem se preocupando o quão falso lhe saía. – Vai ajudar bastante, só preciso que me faculte fotografias, seria possível?
- Não me diga que quer chocar toda a sua escola? – riu-se. Ela mostrou-lhe um sorriso amarelo como quem não tinha achado a mesma piada.
- Mais ou menos. – respondeu. – Preciso delas para desenhar os corpos. – explicou.
- Lamento, mas terá que ser você a tirá-las, nós não temos tempo para perder com esse tipo de coisas fúteis, dentro desta morgue não existe apenas morte. – sorriu-lhe num tom profissional e algo inimigo. Era certo que eles odiavam ter alguém não experiente a lidar com mortos a passear-se nos seus corredores brancos e límpidos, muito menos alguém que tinha uns meros 17 anos e que provavelmente nunca tivera visto nenhum cadáver naqueles preparos.
- Ah. – ela surpreendeu-se. Teria que voltar ali? – Amanhã pode ser, então? – perguntou educadamente.
- Certamente, e à mesma hora. – indicou virando-lhe costas.
- Bom dia para si também. – reclamou entre dentes e gritando interiormente que devia matar a professora que lhe dera tal trabalho. Mas afinal ela estava a estudar para ser o quê?! Médica especialista em mortos?! Não! O seu futuro seria passado a desenhar ou a fotografar!

Chegou no dia seguinte à mesma sala com a mesma bata branca vestida, mas desta vez levava a sua câmara fotográfica consigo. Já que o médico não queria tirar as fotografias então ela não iria desenhar o cadáver, iria fotografá-lo.
Entrou na sala e percorreu-a até à arca frigorífica mais distante, para ser mais precisa a última da sala. Abriu-a e puxou a maca para fora, controlando os vómitos que os pés mortos daquela coisa lhe davam. Perguntou-se ainda se aquela etiqueta nos dedos não lhe faria comichão. “Não sejas estúpida! Está morta.” Destapou-a e observou os mesmos olhos esbugalhados do dia anterior, perguntava-se porque raio não lhe tinham eles fechado os olhos depois de a terem levado para ali, se não estava enganada era isso que faziam com todos os mortos. Mas para ironia das ironias, tinha simpatizado com aquela mulher cadáver. Até que era um bom título para o trabalho… “A mulher cadáver…” imaginava quando do nada um estrondo a deixa em alerta e o coração fora do batimento cardíaco normal. Que raio se tinha passado? Avançou na sala, e parou junto de um espelho. “Os mortos também se vêem ao espelho?” pensou estupidamente com um sorriso divertido esquecendo o estrondo que certamente tinha sido fora da sala.
- Que fazes aqui? – a porta da sala escancarara-se em questão de segundos e uma mulher alta, loira e que de magra não tinha nada falou-lhe.
- Teórica ou praticamente? - “Agora tens sentido de humor?!” seria a sua consciência a falar-lhe?
- As duas. – a mulher pôs as mãos na cintura.
- Tenho um trabalho para fazer e vim fotografar esta gente… - apontou em volta.
- Gente? – uma gargalhada sonora fez-se ouvir. – Isto são cadáveres minha filha, não gente. – virou-lhe costas em direcção à porta. – Bem, assim que acabares sai porque esta gente, como tu gostas de lhe chamar, não está habituada a ter companhia. – voltou a rir-se e fechou a porta num estrondo. Maggie suspirou levando uma mão à testa.
- Eu vou morrer aqui. – disse para consigo. Olhou em redor e destapou uma maca que não se encontrava nas arcas frigoríficas. Estaria… viva? Assim que deu de caras com os olhos fechados da vítima respirou fundo, mas quando ao destapar o seu peito viu uma cicatriz, no mínimo, gigante soltou um grito, embora praticamente inaudível. “Eu mato mesmo aquela mulher!” pensou na professora, mas dirigiu o olhar ao trabalho, aquilo daria um óptimo choque e ela ia passar por forte no meio de todas aquelas coisas mortas. Apanhou todos os ângulos que conseguia e, no fim, encostou-se à parede a rever as fotografias, não só daquele cadáver que aparentava ter sido cosido vivo como de mais dois ou três, incluindo a sua amiga mulher cadáver.
Olhou as fotos todas ao pormenor, não se podia dar ao luxo de chegar a casa e encontrar uma que não estivesse perfeita, por isso naquele momento se alguma não comparecesse àquilo que ela gostava bastava tirar outra.

Sentou-se no chão e no mesmo instante sentiu um gemer, não de uma pessoa mas como se fosse o gemer de uma cama, de uma maca. Não ligou ao som e encolheu os ombros voltando a olhar a máquina.
De novo o mesmo som. E outra. Mas estaria alguém a mexer-se dentro daquela sala? O seu coração parou para no segundo seguinte desatar numa corrida desenfreada pela quantidade de adrenalina que tinha sido libertada na sua corrente sanguínea. Desapertou um dos botões da bata, estava a ficar calor ali dentro. Ou seria ela que começava a ficar com afrontamentos? “Sim, Maggie menopausa na tua idade, é isso.” A sua consciência riu-se com o pensamento totalmente estúpido e fora do contexto em que ela se encontrava.

O som.
Outra vez.
Repetia-se.
Vezes sem conta.

Maggie levantou-se, aquilo já parecia o tal filme de terror que não queria viver. Nunca sonhou ser actriz! Deu ordem às pernas para se moverem de encontro ao som.
Novo gemido, mas desta vez não era um gemido material. Alguém estava a gemer.
Ela estacou a meio da sala dirigindo o olhar à arca frigorífica que estava do seu lado direito. Aproximou-se cuidadamente da mesma. “Volta para trás, volta para trás…” o seu coração falava-lhe, visto mais um susto e ele rebentava e, se havia coisa que não seria bonita era o seu corpo explodir e manchar de vida uma morgue. “Cala-te, miúda!” ordenou a ela mesma.
Conseguia ouvir os gemidos materiais e os gemidos humanos misturarem-se e, se o seu sentido auditivo não a atraiçoava, vinham de dentro daquela arca. Estacou segunda vez, mas desta vez com o ouvido encostado àquela coisa de metal inox. A arca mexeu-se. Maggie saltou para trás e berrou, aliás tentou berrar pois o som tivera ficado preso na sua garganta.
Olhava a arca abanar cada vez mais rapidamente e com mais força como se alguém estivesse lá dentro a tentar libertar-se de qualquer coisa, mas o quê? Quem? Porquê?! E porque raio é que tinha que ser ela a descobrir um vivo dentro de uma morgu… o seu pensamento travou-a. ESTAVA ALGUÉM VIVO NAQUILO?! Agora sim, o berro que dera não tivera ficado preso na sua garganta e tinha sido bem ouvido, apostava consigo que todo o ‘hospital’ a tinha ouvido.
Mas não, ninguém a tinha ouvido porque caso contrário alguém teria vindo ao seu encontro e isso não aconteceu.
Respirou fundo e contou até cinco. Podia estar borrada de medo mas a adrenalina descarregada pela segunda vez na sua corrente sanguínea tornava-a ainda mais curiosa. Desapertou a bata completamente e aproximou-se da arca, destrancando-a. Após o som do metal que a fechadura emitira os gemidos, quer materiais quer humanos, pararam tal como os movimentos da arca frigorífica. Ofegou e abriu a porta, mas curiosamente a arca estava vazia.
- Estou a enlouquecer. – o seu batimento cardíaco diminuiu de intensidade e o sangue que lhe fervia nas veias arrefeceu. Olhou em volta da sala e decidiu ir embora dali, não podia sofrer mais emoções fortes ou morria de ataque cardíaco, e os seus 17 anos ainda eram demasiado tenros para isso. Arrumou os cadáveres que desarrumara como se fossem meros brinquedos e voltou a despir a bata, tal como fizera no dia anterior àquele. Colocou a câmara fotográfica ao pescoço e saiu daquele inferno batendo com a porta.

Um suspiro saído do interior da arca em questão há meros segundos atrás soou, e a arca abrira-se.
- Já nem a morgue é segura. – uma mulher de cabelos negros e olhos azuis, completamente nua, saíra da arca.
- A quem o dizes. – um rapaz, que não devia ter mais de 25 anos seguiu-a. – Vamos ter que arranjar outro esconderijo. – colocou a mão dentro da arca e afastou a maca para o lado de modo a chegar ao fundo falso e retirar as roupas de ambos, o mesmo fundo falso que os impediu de serem apanhados.
- Quem era a miúda afinal?

~~

- Encontrou algo fascinante? – o médico, diferente do dia anterior, perguntou-lhe com um sorriso.
- Completamente, veja lá foi uma autêntica aventura! – disse ironicamente com o sorriso mais falso que possuía. – Até já tenho nome para o trabalho!
- Qual? – a pergunta fora feita num tom, realmente, curioso.
- Uma aventura na morgue. – sorriu-lhe e virou costas. “Que treta de cena.”

3 comentários:

  1. "- Eu vou morrer aqui. – disse para consigo. " - não estava no local errado xD

    "“Sim, Maggie menopausa na tua idade, é isso.”" a menopausa já atinge aos 17! e depois? xD

    bem, conclusão: LOL! Onde é q foste buscar inspiração para isto? o.o

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  2. Ou isso tem uns erros de corcordancia, ou eu perdi-me MESMO até a meio da história o.o

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