Deixou o corpo cair inerte sobre o chão frio e quase congelado que atravessava a rua de sua casa. O porte forte do homem a que disparara um tiro sem sequer se dar conta competia fortemente com o seu corpo pequeno e quase sem forças aparentes. Arrastar aquele ser humano estava a tornar-se numa tarefa quase impossível de realizar, já para não falar que o frio que se fazia sentir no intenso mês de Janeiro não ajudava a nada. A neve que o corpo arrastava consigo começava a ganhar a tonalidade avermelhada do seu sangue.
Emily estava prestes a entrar em pânico e isso não a ajudava a ter mais força.
Deixou-se cair sobre os joelhos, na neve, e a força da gravidade levou a melhor às suas lágrimas. Não tinha tido culpa, fora um mero acidente. Nunca lhe deviam ter dado aquilo para as mãos, nunca devia ter sido tão curiosa e devia ter aprendido a controlar a sua coragem e os seus reflexos de maneira devida e não deixar-se levar num mero susto.
Limpou os olhos com as luvas que trazia calçadas e voltou a tentar arrastar o corpo mais gordo que o seu. A cada puxão que dava podia sentir o ombro da vítima estalar, só rezava para não ficar com o braço nas mãos e o corpo solto no chão. Voltou a tentar mas uma luz acesa ao lado do lago gelado travou-a.
Escondeu-se atrás do poste mais próximo e nem se importou se viam o corpo ou não. Naquela pequena vila toda a gente a conhecia e não era certamente por matar pessoas.
A luz fundiu e Emily voltou ao trabalho, teria que transportar o corpo até ao lago e acabar por enterrá-lo lá. Não tinha ideias melhores. Assim que pousou um pé sobre a superfície gelada e escorregadia do lago sentiu-o ceder. Ou estava a sentir coisas ou então poderia apostar consigo mesma que um passo em falso ou um corpo mais forte abateriam o gelo e quem acabaria congelada era ela.
Com todo o cuidado e o máximo silêncio possível arrastou o corpo até ao centro do lago. Não havia ninguém nas imediações. Tudo estava calado à excepção do ranger do gelo. Qualquer ponto brilhante metia medo até mesmo a ela. E qualquer golfada de ar mais fria que a anterior gelava os seus pulmões e quase a impedia de continuar o trabalho.
Olhou bem a superfície e apercebeu-se de que não havia qualquer tipo de buraco no gelo. Como é que iria enterrar um corpo assim? Respirou ainda mais fundo e bateu com o pé no gelo, que abriu fendas. Repetiu o movimento duas vezes e sentiu-se abater sobre a água fria. Realmente nunca tinha sido boa a matemática, as contas sairam furadas.
O corpo inerte afundou-se mas Emily conseguiu chegar à beira e voltar a equilibrar-se no gelo.
Estava ensopada e totalmente gelada, se não chegasse rapidamente a casa morria de hipotermia. Olhou os pés e a única coisa que conseguiu ver, e preocupar-se com, fora o rasto vermelho de sangue. “Merda.”
Despiu o casaco, com dificuldade por estar totalmente colado a si, e sentiu a sua espinha contrair num arrepio. Tinha que limpar o trilho de sangue no gelo e mais tarde na neve. Mas não iria conseguir.
Emily chegou à neve e os seus joelhos fracos e gelados não a deixaram continuar. O seu cabelo molhado começava a ganhar gelo e o casaco nas suas mãos estava demasiado duro para conseguir limpar fosse o que fosse. As temperaturas que se faziam sentir naquele país às 2 da manhã não eram certamente as melhores para se andar na rua.
Olhou à sua volta e por muito que quisesse gritar por ajuda as suas cordas vocais não deixavam e o seu coração não o permitia. Tinha o orgulho ferido demais depois da bronca que criara e não podia deixar-se ficar pior se a encontrassem naquele estado. Tentou levantar-se mas caiu de cara na neve. Não sairia dali. Não pelo seu próprio pé. Não até alguém a encontrar.
Sentiu o corpo gelar ainda mais. Sentiu o seu sangue parar de correr nas suas veias e, por momentos, jurava ter deixado de sentir o seu batimento cardíaco.
Jurava-se morta aos olhos da morte. Jurava-se culpada aos olhos da culpa. Julgava-se má aos olhos do bem. No entanto, caso morresse mesmo ninguém se ia dar ao trabalho de procurar alguma coisa no lago, pois Emily sangrava do peito e estava totalmente deitada sobre as marcas de sangue que o corpo inerte que arrastara até ali deixara. Morta ou viva, estava safa.
Ou pelo menos assim pensou, mas nunca ninguém poderia explicar-lho.

emely, $:
ResponderEliminarnão li, porque não estou com capaz, mas voltarei, xD
Amei :o
ResponderEliminareh lá, um homicidio o.o gostei!
ResponderEliminarcurioso que nc tinha lido esta o.o
ResponderEliminarmas estava a observar a tua barra lateral, abri isto e pronto olha, li xD
gostei, mas isto devia ter continuação o.o' fiquei curiosa agora!
beijinho *