sábado, 29 de maio de 2010

#15



Bill também tinha ouvido o grito de Melanie, mas ouviu também os passos de Tom, e se estavam juntos de certeza estavam bem. Voltou a enfiar o nariz na revista de moda que lia e esperou que algum deles descesse.

- Vai ser difícil… - suspirou Melanie enterrando a sua cara no pescoço quente e esguio de Tom.
- Porque estás em Tour connosco? – perguntou beijando-lhe a testa. Melanie endireitou-se no colo de Tom.

- Já sabes que não tenho mãe, e também já sabes que ela foi assassinada, certo? – perguntou. Sim, Tom sabia ela já lhe tinha dito isso. Mel continuou. – Eu tinha 12 anos quando isso aconteceu. Eu vi, Tom, eu vi a minha mãe ser assassinada. – Tom arrepiou-se – E o que mais custou na altura, é que quem a assassinou era o homem a quem ainda chamo de pai. – deixou que as lágrimas se soltassem dos seus olhos e deixou que Tom a abraçasse mais pela cintura. – Sufocou-a. – acrescentou – Ali mesmo, à minha frente. Passado uns dias, eu cheguei a casa da escola e ele violou-me. – disse fracamente, não conseguia mais uma vez contar aquela história tão pormenorizada, a única vez que o fez foi a Joe, pois a David não tinha tido coragem de ser tão específica.
- Besta. – balbuciou Tom.
- E era assim quase todos os dias, eu chegava a casa, ele violava-me depois batia-me e, a seguir, largava-me bruscamente. Chamava-me todo o tipo de nomes nojentos que podiam existir, e quando comecei a crescer, a ganhar formas de mulher… - olhou Tom timidamente - … começou a tocar-me com mais frequência e cada vez pior. – controlou um soluço.
- Calma. – Tom abraçou-a com mais força e ele próprio controlou uma lágrima. Ela inspirou fundo.
- Os pesadelos que tenho todas as noites, é com isto. Tanto com as violações como com aquela imagem de dor espelhada nos olhos da minha mãe, ela reparou que eu estava a ver tudo. – inspirou fundo. - Aos 13/14 anos conheci o Joe, o meu melhor amigo, era com ele que passava todo o meu tempo, era com ele que ainda conseguia levar a vida com um olhar de criança e um riso nos lábios, ele era o meu melhor apoio, era e é. – sorriu ao lembrar as rastas loiras dele e as suas roupas largas. – Quando lhe contei a minha história ele ajudou-me a ganhar dinheiro para poder sair do país, eu dançava e ele trinava uns acordes fracos na guitarra, éramos a dupla perfeita. Aos 16 anos o Joe descobriu que o David Jost, o meu tio, era manager de uma tal banda chamada Tokio Hotel, então fomos falar com ele, contei-lhe a minha situação e ele ficou logo disposto a ajudar. Foi então que ao sair daquele quarto, naquele Hotel, me cruzei contigo. – Tom sorriu-lhe beijando-lhe a bochecha.
- Mas estavas tão diferente na altura…
- Decidi mudar por completo o visual, decidi tornar as minhas roupas justas em largas e usar cores mais escuras, decidi pintar o cabelo de preto e decidi deixar o passado no passado, com a tatuagem. – pousou a mão na anca onde tinha a frase. – Daí ser, passado esquecido.
- Faz sentido. – disse-lhe Tom. Tinha ficado emocionado com tudo aquilo que tinha ouvido. Melanie tinha apenas 18 anos mas tanto o seu corpo como a sua alma já tinham passado por muito. Abraçou-a e depositou-lhe um beijo nos lábios. – E que conversa era esta ao telemóvel? – perguntou baixinho.
- Era ele. Era o meu pai. Descobriu que eu fugi e quer que eu volte para ele, se eu não o fizer diz que mata o Joe. – desta vez deixou que as lágrimas escorressem, deixou que a dor que sentia ao proferir tal coisa tentasse diminuir, mas não, não dava, a dor não diminuía.
- Tu não vais, Mel, pois não? – disse, não queria perdê-la.
- Eu não posso deixar que ele faça mal ao Joe, Tom, não posso. – olhou-o.
- Mas… mas ele matou a tua mãe, ele deve é ir preso! E tudo aquilo que te fez ao longo dos anos, Mel é mais que suficiente para o meteres na prisão!
- Eu sei, já falei nisso com o Joe, mas agora está tudo tão frágil… a qualquer momento qualquer coisa pode quebrar. – olhou-o nos olhos.
- Que tal falares com o David, ele poderá ajudar, não?
- Não sei. – limpou as lágrimas.
- É uma questão de experimentares. – sorriu-lhe fracamente e abraçou-a mais, voltando a depositar-lhe um beijo nos lábios, que mais uma vez imploravam por ele.

(…)

Depois de limpar as lágrimas e de se recompor, deixou que Tom a adormecesse.
Tom desceu ao andar de baixo, encontrando Bill sentado na mesa a ler uma revista.
- Que cara. – observou Bill – Que se passou com a Mel? – perguntou.
- A miúda tem uma história medonha!
- Já sabes o porquê de ela aqui estar? – perguntou curioso.
- Sim. – suspirou retirando uma garrafa de Coca-Cola do frigorífico.
- Conta. – pediu – Acho que ela não se importa. – sorriu. Tom sentou-se e contou por alto aquilo que há uns minutos atrás o deixara quase em lágrimas. Era tão estranho ver uma rapariga como ela ser maltratada a este ponto. Ele nunca diria que Melanie tinha aquela história, as coisas que lhe houveram passado pela cabeça metiam drogas e outras coisas assim, mas nunca violações e mortes tão trágicas!

- Ela é mesmo forte. – observou Bill ainda meio anestesiado com o que ouvira.
- Mesmo. Ela é uma excelente rapariga. – Tom sorriu para a garrafa que tinha nas mãos. Gostava dela, gostava da maneira de ser dela, gostava do corpo dela, gostava da maneira de como ela o olhava e como sorrateiramente o desejava. Gostava mesmo dela, só não sabia bem como.
- Oh sorriso estúpido! – Bill riu-se.
- Que foi, mini-diva? – perguntou-lhe desvanecendo o sorriso.
- Nada, nada tinhas aí um sorriso estúpido bastante giro, só isso!
- Parvo.
- Tom, o que é a Melanie para ti? – perguntou-lhe. Tom olhou-o. “Este gajo conhece-me melhor que eu próprio!” pensou.
- Não sei. – respondeu sinceramente – Não sei mesmo. – olhou Bill.
- Esse sorriso estúpido queria dizer muita coisa… - observou – Já foste para a cama com ela? – deduziu rapidamente.
- Sim. – Tom sorriu-lhe abertamente. – Ela é boa!
- Tom, olha os pormenores! – advertiu.
- Ai, como se também não tivesses reparado no corpo dela na piscina! – disse.
- Reparei, mas não fiz filmes nenhuns!
- Oh. – riu-se lembrando-se do sonho.
- A esse tipo de coisas, é que eu chamo concretizar sonhos! – riu-se.
- Não gozes oh! – atirou-lhe a tampa da garrafa.

(…)

**
- Estás bem? – perguntou Joe a Melanie.
- O meu pai ameaçou matar-te, Joey! – disse chorosa.
- Han? Ele já te ligou?
- Sim, e eu vou ter com ele e ver se isto acaba!
- Não! Tu vais metê-lo na prisão, estás a ouvir? – disse-lhe sério. – Faço o que for preciso, Mel! Mas ele é preso.
- Ok. - suspirou. Estava inquieta com essa versão mas ainda assim esperava que se tornasse realidade.
**

1 comentário:

  1. as fotos que metes lá em cima são bem lindas, *.*
    quanto ao texto, está como esperava... muito bom.

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