quarta-feira, 2 de junho de 2010

#17


David estava sentado no palco enquanto via Melanie aos saltos loucos e aos movimentos de ancas sincronizados, na plateia. Estava realmente parvo com aquilo que descobrira à coisa de duas semanas atrás. Seria possível aquilo ser verdade? Como? Já tinha dado voltas e voltas à cabeça para tentar perceber como aquilo era verdade. A única razão que encontrava seria apenas uma, e que acontecera isso mesmo, apenas uma vez.
As escapadelas com a mãe de Melanie, a namorada do irmão, eram muito frequentes, afinal eles eram os melhores amigos de sempre. Andavam sempre juntos, conheciam-se desde putos e adoravam-se. Eram unha com carne e assim que um caía o outro estava lá para o levantar. Por isso, não foi totalmente fácil lidar com o suposto ataque cardíaco dela, e muito pior foi depois ao saber, por Melanie, que afinal o ataque cardíaco nunca tinha existido e, que ela tivera sido assassinada pelo próprio marido.
Tinham uma relação invejável, se bem que quem não gostava muito disso era Peter, o seu irmão. Sempre olhou a relação deles pelo canto do olho, sempre odiou o facto do irmão, três anos mais novo que ele, fosse tão íntimo da sua namorada, mas facto era que David conhecia Sofia, a mãe de Mel, à mais tempo que ele, e como tal, engolia os sorrisos cúmplices, as gargalhadas demasiado sonoras e as brincadeiras que, aos olhos dele, não tinham absolutamente nada de engraçado. No entanto encolhia os ombros e nem ligava.

David recebera uma carta, enviada não sabe bem por quem, escrita pela letra de Sofia a contar-lhe essa novidade. Sim, para ele era uma autêntica novidade, e na carta estava bem explícito que Melanie também não sabia de nada. Sofia escrevera aquela carta, segundo a data ali mencionada, e que David agora possuía nas mãos, lendo e relendo, cerca de 11 anos após o nascimento de Mel.
“É demasiado parecida contigo.” Essa frase era lida por ele todas as vezes que abria aquele pedaço de papel meio amachucado. Aquela frase tivera um impacto brutal no seu ser. Acreditava-se profundamente que poderia ser verdade, afinal até ele a achava parecida consigo, demasiado parecida, mas ao ponto de ser ele o seu pai? Ao ponto de poder ter engravidado Sofia, estando apenas uma única vez com ela, sexualmente? Era estranho, mas altamente possível.

- Hey, tio! – Melanie abanava-o, visto David não dar sinais de vida – David!!? – ele acordou dos pensamentos.
- Hun? – balbuciou olhando os olhos dela. Realmente aqueles olhos eram o seu castanho, nunca o azul do suposto pai ou da mãe.
- Estás bem? Tipo, estás completamente branco! – disse – É por isso? – apontou a carta. – Mostra. – David travou-lhe o movimento, não podia deixar que ela descobrisse aquilo assim tão a frio.
– Não é nada, é trabalho! – desculpou-se, com a desculpa de sempre, e levantou-se do palco.
- Ok. – elevou ambas as sobrancelhas e encolheu os ombros. Há duas semanas para cá que achava o seu tio fixe bastante distante do mundo e um pouco à parte dela. Que se passaria?

- Melanie! – era Tom. – Anda cá! Desta vez jogas comigo! – disse-lhe da lateral esquerda do palco.
- Porquê? – olhou-o. – E quem te disse que eu quero jogar?
- Não sejas desmancha-prazeres, miúda! – riu-se – Anda lá! O Bill hoje não quer jogar e o David também está com o burro amarrado, já para não falar que o Georg está agarrado ao telefone em conversas lamechas e o Gustav não larga a bateria que está na sala! – queixou-se enumerando.
- Oh coitadinho de ti foste abandonado! – riu-se numa voz de gozo.
- Ah que graça! Anda lá! – chamou-a por um gesto.
- Ok. – ela rolou os olhos e subiu ao palco saindo pelo lado esquerdo, seguindo Tom. – E vamos jogar o quê? – perguntou chegando ao backstage.
- Escolhe! – apontou para o ping pong, para os matrecos, para dardos, para uma mesa vazia com apenas um baralho de cartas e a playstation.
- Ai espera! – parou tudo! – Tu pedes-me para vir jogar contigo e ainda sou eu que tenho que escolher o jogo? – riu-se na cara dele. – Essa é boa Tom!
- Ok, ok eu escolho! – olhou-a – Dardos? – fez um sorriso de puto. Melanie sorriu-lhe também e acenou afirmativamente com a cabeça.
- Não tenho propriamente pontaria aviso já!
- Pff, duvido! – disse-lhe. Era certo que fosse o que fosse que ela escolhesse, sairia sempre bem, não havia espaço para dúvidas nesse campo. Melanie podia fazer a coisa mais estúpida do mundo, provavelmente, que sairia o total oposto… algo inteligente e preciso, não obtuso ou desajeitado.

David tinha ficado com a cabeça em Melanie. Tinha ficado com o pensamento da reacção dela. E agora que via melhor a situação, que via de fora, até era melhor Melanie ser sua filha, assim, teria certezas de que ela era bem tratada e de que o seu irmão não lhe voltava a pôr a vista em cima para a magoar…
“Magoar.” A palavra ecoou na cabeça de David, palavra essa que lhe lembrava Tom. “Ele vai magoá-la se continuam nisto…” pensou. Podia fazer-se muitas vezes de cego e surdo, mas não o era. Sabia perfeitamente que Melanie e Tom tinham qualquer coisa. Não sabia se era só sexo, se era mais qualquer coisa ou se nem isso era, mas cada vez que os encontrava juntos sentia que os sorrisos lançados por cada um eram muitos mais cúmplices do que aquilo que algum dia imaginou.
Só esperava que nenhum deles saísse mal do que construiam.

(…)

**
- Novidades? – perguntou Joe a Mel.
- O costume, nada de interessante.
- O Tom? – riu-se.
- Oh, lá vens tu!
- Mel, Mel não me enganas tu gostas dele? – perguntou.
- Sim. – respondeu baixinho.
- Han? O quê? – fingiu não perceber. – Não ouvi bem, fala mais alto!
- Parvo! Sim gosto dele! Ai! – riu-se mais tarde – Gosto mesmo dele…
- E ele?
- E ele, ele tem sexo comigo e está a andar, já passaram dois dias, depois da última vez, e nem me dirigiu uma palavra em relação a esse assunto! – refilou. – Aposto que não me quer para mais nada! – bufou.
- Tens que ter em conta que ele é rei do sexo do mundo! – gozou.
- Goza, goza! Ok, eu gabo-lhe a fama, e até lha confirmo, mas podia ter um bocadinho mais de apreço por quem fode! – estava irritada, deveras irritada! As coisas sobre o pai não estavam a correr pelo melhor, ao que David lhe dissera, as provas não eram suficientes, Melanie teria que falar mesmo com a polícia e ser ela a fazer o relato do que viveu durante anos. Já para não falar naquilo que se começava a formar, em si, por Tom. Aquele sentimento que nutria por ele estava a matá-la por dentro.
- Melanie calma lá! Eu não sou o Tom! E olha que acho bom ires dizer-lhe isso… - aconselhou.
- Achas? – perguntou mais calma.
- Sim, mas tem em conta que quem quis isso tudo foste tu. Tu é que quiseste que ele te, e usando as tuas palavras, te fodesse!
- Pois sim, mas eu quis a primeira vez, a segunda ele começou e eu deixei, simplesmente. – disse.
- Ele vai usar isso contra ti. Aposto que não fazes nada com ele por obrigação.
- Claro que não, eu gosto de ter sexo com ele. – sorriu timidamente.
- Especialmente se for na piscina! – gozou. Não sabia todos os pormenores mas sabia por alto aquilo que se passava na vida de Melanie.
- Não gozes pá! Aconselho-te a experimentares! – riu-se – Como está a Mariana? – perguntou, ao que parecia Joe andava enrolado com uma amiga comum aos dois.
- Bem, mas tudo na mesma.
- Ainda não avançaram?
- Queres que avancemos para onde? – riu-se.
- Não sei, talvez um namoro?
- Achas? – perguntou timidamente.
- Sim, porque não?
- Porque não tenho coragem! – limitou-se a dizer.
- Ok, ok. – explicou-lhe algumas coisas, conversaram mais um pouco, aconselharam-se e despediram-se. As conversas entre os dois eram sempre uma mais valia.
- Fala com o Tom. – foi a última coisa que Melanie ouviu antes da chamada cair.
**

(…)

“Onde? Mas será possível que ela tenha desaparecido sem deixar rasto nenhum? E porque merda ela não é capaz de me dizer onde está?”
Peter estava fulo. Andava de um lado para o outro da sala, de telemóvel na mão. Tinha acabado de desligar com a filha e continuava sem saber onde ela estava. Não sabia com quem estava, se estava em Portugal ou no estrangeiro, não sabia nada, estava a apanhar papagaios do ar, nada mais. Andava freneticamente, esbracejava, tentava encontrar uma solução, tentava acima de tudo encontrar um sítio onde Melanie pudesse estar. Correu toda a sua cabeça até os pensamentos serem interrompidos pelo soar da campainha de casa. Dirigiu-se à porta e esboçou um sorriso. “Alguém que me faça esquecer o mundo!” pensou ao ver quem se encontrava do lado de lá da porta. Era Sarah. Agarrou de imediato a mulher alta e morena em excesso, pela cintura e levou os seus lábios aos dela.

- Isso é tudo fome? – riu-se sensualmente contra os lábios do suposto amante.
Sim, porque Sarah era casada. Sarah Parker era casada com um dos melhores amigos, do trabalho, de Peter. A mulher de 40 e poucos anos de idade conhecera Peter e David Jost, na escola. Andou com eles durante toda a infância, chegando a ter um caso com David, e mais tarde acabou por perder contacto, seguindo com a sua vida de advogada bem sucedida. Casou e teve um filho, que por deficiências e incompatibilidades com a vida acabou por falecer. Passou um mau bocado, e numa das idas ao trabalho do marido deparou-se com Peter. A chama que a tivera consumido, quando era mais nova, reacendera por ele. Sempre tivera qualquer coisa com aqueles dois irmãos. Não sabia porquê, mas eles tinham qualquer coisa que hipnotizava de apenas olhar. Primeiro andara com David e, mais tarde, desenvolveu uma paixão que não fora correspondida por Peter, visto este já ter namorada.

Os encontros entre os dois tornavam-se cada vez mais frequentes e cada vez mais íntimos. Encontravam-se em hotéis ou motéis, consoante. Nunca, e como qualquer casal de amantes, se encontravam na casa do outro. Peter tinha a Melanie e Sarah o marido.

- Sabes que sim. – sorriu-lhe e arrastando-a consigo para o sofá, consumou a dita fome.

2 comentários:

  1. Gostei bastante deste!
    E confirmou-se a minha suspeota em relação ao David ser pai da Mel!
    E o Tom é uma estúpido u.u' xD
    pronto, já chega.
    Gostei muito ^^
    segue,, :D

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