terça-feira, 8 de junho de 2010

#19


- Estava mesmo a ver! – Gustav levantou à bruta dirigindo-se ao sítio de onde o grito veio. – MEL?! – chamou-a, dirigindo-se ao local.

- GUSTAV! TIRA-ME ISTO DAQUI! – gritou de cima do banco de jardim, apontando.
- O quê? Estás bem?! – perguntou confuso. Tom chegou logo a seguir.
- Que se passa, miúda? – perguntou preocupado.
- Tirem-me essa cobra daí, e parem de me perguntar se estou bem!! – disse completamente aflita. Gustav olhou em volta, e descobriu uma cobra, pequenina e fininha que, provavelmente, não fazia mal nenhum.
- Isto? – pegou na cobra com um pau.
- FORAA! – disse chorosa.
- Anda cá, rapariga. – Tom chegou-se ao pé dela, podia ver que assustada, era pouco para caracterizar a situação de Melanie, talvez pânico fosse melhor.
- Não! – encolheu-se em si mesma.
- Vá lá!
- Eu não desço daqui enquanto isso não estiver morto! – apontou a cobra.
- Eu levo-te ao colo, agora sai daí que me estás a fazer impressão! – disse-lhe. E estava, vê-la naquele estado de aflição fazia-lhe confusão. – Gus, mata isso.
- Eu não vou matar o pobre do bicho. – refilou em murmúrios. Tom olhou-o.
- Não quero saber, leva-a daqui. – fez sinal sobre Melanie e sorriu. - Mel, anda lá! – abraçou-lhe a cintura.
- Não! – ela chorava compulsivamente.
- Anda lá! – agarrou-a. Pôs-lhe um braço na cintura e outro nos joelhos, transportando-a para o autocarro. Melanie mexeu-se de tal maneira que quase saltava de colo de Tom. – Está quieta… - sussurrou-lhe deixando que se abraçasse ao seu pescoço - … já estás longe. – descansou-a. Entraram no Bus, onde Bill também estava sentado a ler uma revista, como de costume.

- Que se passa? – perguntou ao ver o estado de Melanie. Ela continuava a chorar de pânico, respirava pesadamente e estava totalmente desregulada.
- Ela viu uma cobra e ficou assim. – disse Tom.
- Eu tenho herpetofobia. – disse a custo, levantando-se e andando de um lado para o outro.
- E isso é? – perguntaram os gémeos em coro.
- Medo de répteis e coisas assim rastejantes. – inspirou, bebendo um bocado de água.
- Ah ok, então está explicado. – suspirou Tom dando-lhe um beijo na cabeça. – Para a próxima avisa!
- Oh meu otário, achas que dá? Ela estava em pânico! – disse-lhe Bill. Melanie apenas acenou com a cabeça.
- Pois. – coçou o pescoço. – Mas para a próxima também já sabemos que não podes ver esses animais! – riu-se de si mesmo.

(…)

- Melanie, posso falar contigo? – perguntou David, entrando no quarto de hotel da rapariga de cabelos negros.
- Sim, diz. – estava sentada na cama de volta do iPod.
- É sobre o teu pai.
- Diz. – bufou, odiava aquele sujeito e cada vez que a faziam relembrar aquele cretino dava-lhe uma volta no estômago que a punha totalmente enjoada.
- Quando formos actuar em Portugal… - ele começou - … tu vais falar com a polícia judiciária. Já está tudo tratado. Dentro de um mês ou dois, mais coisa menos coisa, vais resolver todos os problemas, se estiver tudo nas leis, ele é preso por abuso de menores e homicídio. – disse e Melanie suspirou.
- Isso quer dizer que vou puder livrar-me dele de vez? – perguntou.
- Sim, basicamente.
- E quando é que os Tokio Hotel passam por Portugal?
- Dentro de um mês. – disse. – Precisamente um mês.
- Obrigada, Tio. A sério se não tivesses sido tu a safar-me de toda aquela novela eu já não estaria inteira, provavelmente. – levantou-se da cama e abraçou-se a David de forma forte e revigorante. Aquela pessoa sempre tinha sido tudo para si.
- De nada, miúda. – sussurrou. – E eu tenho uma coisa para te contar, Mel.
- O quê? – separou-se dele.
- Eu tenh… - foi interrompido por três batidas secas na porta.
- Entra. – disse Melanie.
- Posso? – Tom pôs a cabeça dentro do quarto.
- Sim, entra.
- Eu só te vim chamar porque o Bill está aos berros por ti e eu já não o suporto ouvir! – refilou.
- Esse não vive sem mim, já viste? – riu-se olhando David.
- Já vi, já. – disse apaticamente mas com um sorriso.
- Mas eu já vou, que querias contar-me tio? – perguntou.
- Esquece, vai lá ao Bill. Eu falo depois contigo!
- Ok. – e saiu do quarto acompanhada de Tom.

David sentou-se na cama com a cabeça entre as mãos. Como? Como é que lhe contava tal coisa? Toda a vida soube que Melanie o adorava, quase como a um pai, mas chegar a um dia mais tarde e descobrir que, afinal ele era mesmo seu pai, não seria demais? Talvez não. Esta noite, na viagem da Suécia à Noruega, iria viajar no Bus dos gémeos e dela e iria contar-lhe. Iria mostrar-lhe a carta, iria realmente ajudá-la a compreender todos os pormenores e iria contar-lhe como tal coisa tinha acontecido. Iria explicar-lhe tudo e iria, acima de tudo, esperar que ela reagisse da melhor maneira.

(…)

- Nem penses, dá cá isso! – Bill refilava com Tom.
- Não, quem estava com isso era eu! – atirou.
- Tom Kaulitz! – disse Bill com voz altiva.
- Bill Kaulitz! – Tom imitou-o com uma voz fininha.
- Mesmo parvo!
- Sou igual a ti, mas dá cá isso! – lutavam um com o outro pela posse da guitarra do Guitar Hero, enquanto Melanie, que os observava atentamente, ria.
- Tu em vez de te rires podias dar uma ajuda, não? – sugeriu Bill.
- Eu? Achas que me vou meter nisso? Só se fosse parva! – voltou a rir-se, desta vez bastante alto.
- Fica lá com isso! – Tom deu o braço a torcer, aquela gargalhada de Melanie tivera-o despertado para outra realidade. Sentou-se ao pé dela e depositou um beijo nos seus lábios. Não tinha nada com ela assumido, mas tinha dentro de si algo a crescer por ela, mas como não sabia exactamente o que era deixava que o seu corpo, à mercê do seu coração, fizesse aquilo que ele pedia.
Melanie correspondeu ao beijo sentindo o seu coração dar um salto no seu peito. Não estava totalmente à espera que ele se chegasse a si daquela maneira e a beijasse, tão inesperadamente, porque lá está, eles não tinham nada assumido. No entanto, e como só Bill se encontrava distraído no compartimento, deixaram-se levar, nem dando pela paragem do autocarro e pela entrada de David.

- Hanhan? – emitiu um som de desaprovação assim que viu os lábios de Melanie colados aos do guitarrista. Já sabia que existia qualquer coisa entre eles, mas continuava sem saber o quê. Devia ficar preocupado com o facto de Tom ser um rapaz do mundo e, provavelmente, pudesse magoar aquela a que, a partir desta noite, chamaria de filha? Talvez não devesse, Tom era um bom puto e sabia cuidar bem das pessoas, como David sabia que adormecia Melanie, mas ainda assim havia qualquer coisa que o deixava de pé atrás.

- Ah David… - Melanie aclareou a voz. – Tudo bem? – largou Tom.
- Sim, queria falar contigo… a cena de hoje de manhã…
- Ok, vamos para o meu quarto. – sorriu a Tom e deixou que David a seguisse.

- Senta-te. – sugeriu, também ela se sentando na cama. David sentou-se ao seu lado.
- Tenho aqui uma carta… uma coisa que me foi mandada e que foi escrita pela tua mãe, Melanie. – os olhos da rapariga abriram-se em espanto e um pequeno sorriso de confusão abriu-se nos seus lábios.
- O que diz? – perguntou.
- Revela uma verdade… uma coisa que devias ter sabido logo de início mas… - interrompeu-se.
- Deixa ler! – pediu tentando a carta com os olhos.
- Ela vem dirigida a mim, mas a grande causa… és tu. – estendeu-lhe a carta meio amachucada para as mãos. – Cuidado. – avisou. Melanie olhou-o confusa.
- Porquê? É assim tão mau? – perguntou.
- Depende do ponto de vista. – beijou-lhe a testa. Melanie abriu a carta e começou a ler.

“Querido, David. Eu sei que não duro muito tempo, sei que a situação cá em casa piora a cada dia que passa. Sei que ele me mata em breve. Não sei quando mas sei que sim. Tenho pena de te informar daquilo que o teu irmão se tornou, mas a partir do momento em que começaste a digressão com a tua banda e que partiste de vez para a Alemanha, que ele é bruto comigo, que me bate e que não faz mais nada comigo além de discutir. Tenho medo que quando a Melanie crescer, e se eu já não estiver neste mundo, seja ela o alvo das porcarias e das asneiras dele, por isso tenho algo a revelar-te.
Lembras-te daquela vez que nos deixámos levar pelos sentimentos e pelo corpo e nunca pela mente? Sabes ao que me refiro? Aposto que sim. Dessa noite, o fruto foi Melanie. Melanie é tua filha e não do Peter, ela é demasiado parecida contigo. Tem os teus olhos, David e há-de ter o teu coração tenho a certeza.
Não sei quando isto te vai chegar às mãos, mas espero que a tempo dela não sofrer qualquer mazela.
Desculpa mas obrigada, foste a melhor pessoa que conheci neste mundo e aquela com a qual tive o que todas as mulheres sonham: uma filha linda.
Obrigada.




Amo-te melhor amigo.
Sofia.”


Melanie não conseguira conter as lágrimas, não conseguira controlar o choro a partir do momento que reconheceu a letra da sua mãe dizer que ela era filha de David. Porque é que ela não lhe contara antes? Porque é que cada vez que o tio David a vinha visitar, a sua mãe não lhe dizia que afinal o tio David nunca fora seu tio, mas sim seu pai? Porquê?!
Chorava por todos os poros e tinha já largado a carta sobre a cama, andando de um lado para o outro. David levantou-se e abraçou-a, impedindo-a de continuar a gastar o chão. Abraçou-a com todo o amor que sempre sentira por ela e que agora, mais que nunca, sentia. Tê-la tão frágil nos seus braços após uma notícia daquele calibre, fazia-o sentir, realmente, pai dela.
- É verdade…? – sussurrou chorosamente contra o peito de David. – É verdade que aquele cabrão não é meu pai? – perguntou.
- Pelo que a tua mãe diz, é. – abraçou-a mais.
- Isso quer dizer o quê? Que agora sou tua filha e que nunca mais tenho que dar explicações ao… - interrompeu-se - … ao meu verdadeiro tio? – soou-lhe estranho, mas sabia bem pronunciá-lo.
- Vamos tratar das legalidades e ver o que podemos fazer, sim? – afastou-se um pouco dela e mostrou-lhe um sorriso, beijou-lhe a testa. – Vamos fazer os testes, vamos a tribunal se for preciso, mas tu vais ficar comigo, e nunca mais aquele meu irmão te vai pôr os olhos em cima. – disse confiante. Se Melanie era sua filha só tinha o dever de a proteger, e o facto era que, esse instinto sobre ela, já vinha desde que ela tinha um ano de idade e a viu pela primeira vez.
- Obrigada. – sorriu e beijou-lhe a bochecha.
- Vai limpar a cara e vamos comer qualquer coisa com os rapazes.
- Ah, David… - estava em dúvida se lhe chamava pai ou não, mas por enquanto teria que se habituar. - … aquilo que viste com o Tom…
- Gostas mesmo dele? – perguntou.
- Sim. – disse timidamente.
- E o Tom consegue gostar só de ti sem ter que haver mais raparigas pelo meio?
- Não sei. – encolheu os ombros. – Mas o que viste…
- Não te preocupes. – interrompeu-a com um sorriso. – Tens todo o direito de te divertires. – piscou-lhe o olho, e Melanie soltou uma gargalhada.

David desceu, arrumando a carta no bolso traseiro das calças e sentou-se na cozinha com os rapazes.
- Alguém tem fome? – perguntou.
- Eu tenho! – disse Bill. – Aos montes!
- Também eu, mas estávamos à espera da Melanie. – disse Tom.
- Ela já desce, aproveitem que estamos parados e vão chamar os outros dois se faz favor. – pediu.
- Ok. – encolheram os ombros e saíram em direcção à bomba de gasolina.

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