Há demasiado tempo que Melanie não sonhava com aquele ser nojento que era a pessoa com quem tinha vivido anos e anos a fio, sempre alvo dos mesmos maus-tratos e das mesmas porcarias. Sentou-se na cama e limpou o suor com as costas da mão, tal como fez com as lágrimas.
Já não tinha um pesadelo deste calibre à meses e agora, agora que se aproximava a chegada a Portugal tudo voltara ao início. Levantou-se e andou às voltas pelo quarto tentando controlar as lágrimas e a respiração. Estava fora de si, fora do seu controlo físico e psicológico. Precisava de Tom. Mas onde é que ele estava? Afinal só ele conseguiria acalmar o seu estado psicótico.
Dirigiu-se à casa de banho e lavou a cara. Tinha os olhos vermelhos e super inchados, as lágrimas já cessavam mas a respiração ofegante mantinha-se inalterável.
- Porquê? – perguntou-se num murmúrio. Encostou-se à parede e deixou o corpo deslizar até embater no chão, sentando-se. Abraçou os joelhos com os braços e pousou neles a cabeça. Aquelas imagens horripilantes, daquela violação que mais a marcara, sim porque Peter não se tinha dado só ao trabalho de invadir Melanie sem autorização, depois deixá-la com nódoas negras era a melhor coisa a fazer para ele. Soluçou descontroladamente e sentiu a porta do quarto abrir-se.
- Mel? – perguntou Tom ao não a ver deitada na cama, como esperava ainda a encontrar. Melanie soluçou mais uma vez e Tom virou-se. Deu com ela sentada no chão e lavada em lágrimas. – Melanie, que se passou? – ajoelhou-se à sua frente e imediatamente Melanie se agarrou ao seu pescoço chorando ainda mais. – Calma… eu estou aqui. – sussurrou abraçando-a e dando-lhe um beijo na cabeça. – Anda. – levantaram-se e deitaram-se na cama. – Deita aqui. – puxou-a para o seu peito, tentando controlar o choro da namorada, mas era praticamente impossível. No entanto, esperou que ela acalmasse com as carícias e os beijos que volta e meia lhe depositava na cabeça ou no ombro.
- Foi horrível, Tom… - balbuciou.
- Que se passou?
- Eu sonhei…
- Pesadelos outra vez? – perguntou.
- Sim, e… é tão mau. Eu não quero ir a Portugal. – olhou-o chorosamente.
- Assim nunca irás resolver as coisas. – disse-lhe.
- Aposto que ele me vai tentar matar. – soluçou.
- Não! Eu não deixo que isso aconteça. – assegurou. – Ele nunca te há-de pôr as mãos em cima.
- Não, Tom. Ele vai pôr, ele vai fazer merda, ele vai tentar de tudo para me matar. Então ainda para mais quando souber que não sou filha dele.
- Não quero saber. – sentou-se na cama e olhou Melanie nos olhos. – Eu não vou deixar que ele te faça mal, não vou, Mel. – estava confiante. Beijou-lhe a testa. – Foste a melhor coisa que me aconteceu, percebes? Eu não vou abrir mão de ti assim do nada, não vou! Não por causa de um cabrão de merda como ele! – falava sério e com toda a determinação que sentia. Gostava demasiado dela para a puder perder assim tão de repente. Ela suspirou.
- Tens noção que eu não te mereço? – limpou as lágrimas e olhou-o aconchegando-se mais a ele. Tom não lhe respondeu, era mais que evidente que ela o merecia, ela fazia-o tão feliz como ele nunca se imaginara. Sentia-se realizado, sentia-se completo cada vez que a beijava, e cada vez que fazia amor com ela parecia que o seu corpo flutuava e que chegava ao paraíso. Ela era simplesmente perfeita.
- Merecias melhor, mas em falta de… - brincou.
- Parvo. – soltou uma gargalhada.
- É assim que eu te quero ver, Melanie, a rir. – beijou-a com todo o sentimento que o momento impunha.
- Sabes uma coisa…? – perguntou.
- O quê?
- Eu amo-te. – sussurrou olhando-o nos olhos. Tom sorriu, era sem dúvida a primeira rapariga que lhe dizia aquilo tão sinceramente e que de facto o sentisse. E ele, por incrível que pareça, sentia-se bem a ouvi-lo.
- Eu também te amo, miúda. – murmurou beijando os lábios da rapariga. – E agora vamos tomar um banho, secar essas lágrimas e esquecer o mundo! – disse.
- Parece-me bem! – suspirou.
*
Aproveitava todos os concertos dos rapazes para se divertir pela plateia durante o soundcheck. Simplesmente podia pôr os seus fones e dar asas à imaginação com o corpo. Os seus passos coordenados, as suas acrobacias perigosas e sempre rasuradas ao chão arrepiavam qualquer um.
Tom estava sentado no palco de olho nela. Sabia que qualquer movimento em falso poderia despoletar uma queda das grandes e que Melanie simplesmente nem se queixaria. No entanto, ele sabia de todas as marcas e nódoas negras que existiam no seu corpo, isso Melanie não conseguia esconder.
Melanie parou, descansando as mãos nos joelhos enquanto se punha de cócoras. Tom estranho e saltou do palco, mas no mesmo momento Melanie levantou-se e fez três mortais atrás completamente seguidos e na perfeição, obrigando Tom a desviar-se da sua rota e, como tal, tinha atrapalhado a sequência da namorada.
- Merda! – sussurrou Melanie aterrando de joelhos no chão. Tom imediatamente se aproximou dela.
- Estás bem?! – ajudou-a a levantar. Melanie bufou agarrando os joelhos.
- Tu nunca estás no sítio certo, pois não? – olhou-o.
- Desculpa. – ele sorriu-lhe e olhou os joelhos despidos dela, visto estar de calções. – É mais uma nódoa negra?
- Por tua culpa. – também ela mirou os joelhos e passou-lhe as mãos de modo a apaziguar a dor miudinha que sentia. Tom riu-se e beijou-lhe os lábios, descendo até aos joelhos.
- Já passa. – respondeu e Melanie sorriu. Sim, ia passar com ele tudo passava.
(…)
Estava deitada na cama a passar os canais da televisão vezes e vezes sem conta, sem encontrar nada de jeito para ver. Mas também, Melanie não estava propriamente centrada na televisão nem naquilo que lá dava, simplesmente tinha os pensamentos longe daquele quarto de Hotel.
- Jantar? – Tom saiu da casa de banho, ainda vestindo os boxers.
- Não tenho fome… - disse.
- Mel… odeio ver-te assim! – respondeu Tom sentando-se aos pés da cama.
- Mas eu não tenho fome, Tom. – desviou o olhar até ele. – Tu é que deves estar esfomeado, depois do concerto… - disse virando-se na cama, aconchegando-se na almofada - … room service e serve-te. - Tom aproximou-se dela e prendeu-a pela cintura com os braços, fazendo as suas costas irem de encontro ao peito dele, carinhosamente. Beijou-lhe o ombro coberto pela t-shirt de dia-a-dia que envergava.
- Não fiques assim. – sussurrou. – Eu não gosto de te ver assim.
- Uma semana, Tom, uma semana.
- Uma semana para passares a ser a pessoa mais feliz do mundo! Uma semana para poderes ser livre para sempre! Isso é bom, não mau… - falou no seu ponto de vista.
- Não. – contrariou – Uma semana para voltar a ver aquele paspalho. Uma semana para voltar a sofrer por aquilo que, acho, não merecer. Uma semana para morrer, para deixar de ver a luz do mundo. – aconchegou mais as mãos dele com as suas, pousadas na sua barriga.
- Pessimista. – beijou-lhe o pescoço.
- Realista. – Tom virou-a para si.
- Não, não e não! – olhou-a fundo nos olhos. – Depois desse dia, o teu destino vai mudar para melhor. Eu prometo-te! – Melanie deixou que os seus olhos se enchessem de lágrimas. Ver Tom tão crente daquilo que poderia nunca acontecer deixava-a assim, cada vez mais submissa ao feitiço que aqueles olhos possuíam. Àquele calor que emanava da sua alma e do seu coração. Àquilo que lhe aquecia a mente e que lhe beijava o pescoço. Era feliz com ele, sim claro que sim, mas dentro de uma semana não se acharia feliz com certeza. – Não chores… - beijou-lhe os olhos e sentiu os seus lábios molhados de uma solução salgada. Melanie abraçou-se a Tom como quem abraça a vida. Ter aquele ser consigo era a melhor coisa que algum dia lhe tinham dado. Era o melhor presente que algum dia lhe tinham oferecido. Agradeceria para o resto da vida o facto de Tom estar consigo nestes momentos.
- Promete-me que vais ficar comigo… - olhou-o nos olhos.
- Prometo. – respondeu sinceramente. – Prometo mesmo, Melanie.
- És um amor… - sorriu contra o peito despido de Tom.
- Pois sou, mas vou deixar de ser se não comeres! – brincou fazendo-lhe cócegas no fundo das costas.
- Pfff, só por isso? – perguntou.
- Só por isso…
- Hum, se eu comer és um amor a noite toda? – sorriu-lhe, um sorriso provocador.
- E depois o louco por sexo sou eu! – riu-se alto e bom som.
- Não tenho culpa que tu sejas bom naquilo que fazes! – impôs-se, brincando com ele. Tom riu-se e pegou no telefone do quarto.
- Que queres comer?
(…)
- Tu não tens ideias onde a Melanie possa estar? – perguntou Peter a Sarah enquanto esta descansava a cabeça no seu peito ofegante.
- Eu? Porquê? – perguntou espantada pela pergunta.
- Sei lá, podias saber…
- Eu só estive com ela uma vez, e ela era bebé! – disse Sarah.
- Sim, mas também foste amiga da Sophie depois da miúda crescer.
- Perdi o contacto facilmente. – pousou o queixo no peito de Peter e olhou-o nos olhos, tentando levar a mentira a sério. – Nem me lembro da última vez que pude estar com ela… - disse.
- Hum. Ok. Era só a ver se ajudavas… a miúda não pode ter ido longe, e eu já desisti de lhe telefonar, ela desliga-me sempre! – refilou.
- E se pensares um bocadinho e deixares a tua filha… - sublinhou a palavra - … viver a vida dela sem mais ninguém? – perguntou. – A miúda já é maior de idade!
- Sim, mas não deixa a minha casa do nada, sem me dar justificações nenhumas! – disse irritado.
- Acalma-te, isso não a vai fazer voltar. – sentou-se na cama, cobrindo o peito com o lençol e olhou-o. – Acho que, agora, nada a vai fazer voltar. – levantou-se e vestiu a sua roupa num ápice.
- O que é que tu queres dizer com isso, Sarah? – perguntou em tom de ameaça, aquele olhar assustava qualquer um. Talvez agora Sarah percebesse o porquê de Melanie ter fugido.
- Nada de mais… - disse - … agora que já sabe o que é a liberdade, não vai querer voltar. – mentiu.

omg, a sarah é que enviou a carta ao david? :O
ResponderEliminarmeu msn brecou, vou desligar o pc e volto já, <3