segunda-feira, 5 de abril de 2010

#38




- Tom! – Bill chamou-o ao vê-lo completamente desfeito numa das cadeiras azuis do hospital. Abraçou-se a ele.
- O que se passou? – perguntou Ana.
- A Carol está bem… - disse largando-se de Bill.
- Então porque estás assim? – perguntou o irmão passando-lhe uma mão pela cara.
- O bebé? – perguntou Ana preocupada.
- Não resistiu. – baixou a cabeça.
- Como é que estás? – Bill pousou as mãos sobre os ombros de Tom.
- Que achas? – perguntou retoricamente – Até tenho medo de ir ver a Carol…
- Ainda não fostes?
- Não, tenho medo da reacção dela… porque afinal se eu não tivesse discutido com ela, ela nunca tinha saído de casa assim e nunca lhe tinha acontecido nada.
- De certeza que a Carol não vai guardar remorsos, aposto que desde que continues ao lado dela ela vai ultrapassar tudo e ajudar-te a ultrapassar.
– Ana sorriu dando um beijo na testa de Tom – Vai vê-la, nós esperamos aqui. – disse.
- Obrigada. – abraçou a rapariga e seguiu até ao quarto número 17, que lhe tivera sido indicado.
Bateu e só abriu a porta depois de ouvir um sumido “Entre” vindo do interior.
Entrou e imediatamente olhou Carol. Aquela imagem já lhe tinha passado pela cabeça uma vez: a vez que a tinha ido ver ao hospital depois de acordar do coma.
- Anda cá. – Carol pediu bastante baixo controlando todas as lágrimas que queria deixar escorrer. Sentou-se ligeiramente na cama.
- Desculpa. – Tom chegou-se a ela e sentou-se na beira da cama. Carol passou-lhe uma mão pela cintura e outra pelos ombros e encostou o seu corpo ao dele abraçando-o. Era do que precisava naquele momento, sentir os braços fortes e protectores de Tom abraçarem o seu corpo. Precisava do seu abraço como alguém precisa de água num deserto, precisava dele como do ar para respirar. Era certo que se neste momento perdesse Tom, a sua vida deixava de fazer sentido e Carol não resistia.
- Não peças Tom, tu não tens culpa de nada, eu é que não devia ter levado a faca, não devia ter levado aquela porcaria comigo. – sussurrou ao seu ouvido ainda abraçada ao seu corpo.
- Mas se eu não tivesse começado a discussão… - Carolina cortou-lhe a palavra.
- Shhh, isso não me importa agora. A culpa nunca será tua. – Tom apartou um pouco o seu corpo do dela e pousou-lhe a mão na face direita.
- Eu amo-te… - olhou-a intensamente nos olhos e Carol pôde comprovar tal veracidade nas palavras dele.
- Eu também te amo Tom, e garanto-te que não vai haver nada no mundo que mude isso. Prometo, e esta promessa eu tenciono cumprir sempre. – sorriu-lhe fracamente, tinha dores no baixo ventre, o médico explicara-lhe que era devido ao aborto espontâneo, mas claro que também era devido aos 9 pontos que tinha levado.
- Acredito. – Tom sorriu-lhe também e colocando-lhe uma mão sobre a barriga perguntou: - Estás bem?
- Mais ou menos…
- encostou-se na cabeceira da cama entrelaçando os dedos nos de Tom acariciando-lhe a mão com o polegar. - … tenho dores físicas e mentais… mas sobrevivo. Tu? Como estás? Foi um choque não foi? – tinha agora as lágrimas nos olhos e não eram por si, eram por Tom. Soube no dia em que ficou realmente provado que iriam ser pais que Tom tivera o melhor dia de sempre. Era esquisito ouvi-lo falar em ser pai, pois tudo aquilo que ouviu sobre ele antes de a conhecer, tudo aquilo que o próprio lhe contou, não fazia qualquer sentido ser pai aos 20 anos e ficar absolutamente fascinado com isso! Mas a única explicação que encontrava era que ele era ele e nada mudava isso.
- Sim, tenho que admitir. – baixou o olhar, estava completamente destroçado. – Não te sei explicar mas… - interrompeu-se calando as lágrimas.
- Não tem mal chorar… - sussurrou aproximando os seus lábios dos dele. - … dizem que limpa a alma. – ela não tinha moral para falar, mas era o que sempre lhe diziam, no entanto e como era igual a Tom não ligava e não se libertava.
- Digo-te o mesmo. – levou uma mão ao pescoço de Carolina e terminou o que ela tinha começado beijando os seus lábios. Era bom voltar àquele refúgio, àquele sítio no corpo dela que o compreendia como mais ninguém fazia. Quebraram o beijo e deixaram-se ficar em silêncio apenas contemplando o outro.

- A Ana e o Bill estão lá fora. – lembrou-se Tom quebrando o silêncio.
- Vai chamá-los então. – sorriu-lhe. Estar com Tom fazia-lhe bem ao espírito e ao corpo. Tom beijou-a e saiu voltando no minuto seguinte com o seu irmão e a irmã da namorada.

- Miúda! Mas tens a mania de me pregar sustos não é?! – era Ana, sabia que ela já estava mais ou menos bem e como tal tinha que entrar a matar.
- Desde pequenina, né? – riu-se.
- É! – Ana abraçou-se a ela. – Estás mesmo bem? – perguntou-lhe ao ouvido, acima de tudo amava a irmã, amava até podia dizer, as suas asneiras. Fazia parte da personalidade de Carol, fazia com certeza parte do seu DNA. A única coisa que Carol controlava na vida eram as emoções, o resto não importava, até podia cair o céu sobre si que Carol não se iria importar com esse pequeno pormenor.
- Dentro dos possíveis sim. – respondeu.
- Vai haver o dia em que vou ter um ataque cardíaco por tua causa não? – era Bill que se aproximava dela e lhe depositava um beijo na testa.
- Desculpem. – olhou Bill, Ana e mais tarde Tom.
- Tu nunca vais mudar… - Ana levou a mão à testa passando-a depois pelo cabelo apanhado num rabo de cavalo fazendo sobressair as madeixas ainda vermelhas. - … vai haver o dia em que te acontece algo grave e depois quero ver! – ralhou.
- Ana… - olhou-a fulcralmente - … eu já vi coisas que ninguém imagina, eu já estive em coma, eu mutilo-me, eu já tive a sensação do que é estar grávida, tive a sensação do que é perder um filho, estou deitada numa cama de hospital com 9 pontos devido a uma facada… achas que não chega? – perguntou com um ligeiro sorriso irónico.
- Não sejas assim. – retribuiu o sorriso no mesmo tom irónico.
- Discussão de irmãs não, tá? – era Bill.
- Não te metas, sim? – perguntou Ana ao namorado.
- Ok! – Bill elevou as mãos no ar e virou-se para Tom que estava agora sentado numa das cadeiras ali existentes. – Tu… - apontou para ele. Tom levantou o olhar. - … café? – perguntou.
- Sim. – sussurrou levantando-se, precisava mesmo de sair dali, estar a ver Carol mais uma vez numa cama de hospital pelos maus motivos deixavam-no fora de si.

(…)

- É hoje doutor? – perguntou Carolina ao médico que tirava apontamentos das suas máquinas.
- Não gosta de estar aqui? – perguntou com um sorriso.
- Em casa estou muito melhor… este sítio traz-me más recordações. – desabafou.
O doutor sorriu-lhe – É hoje que sai sim. Vou ligar à sua irmã… ou prefere que ligue ao seu namorado?
- Ligue à minha irmã e peça-lhe que não diga que me vem buscar.
– sorriu.
- Com certeza. Até já. – saiu.

Queria ir ter com Tom sozinha. Queria ir ter com ele e matar saudades de estar com ele sem mais ninguém a importunar ou sem uma cama de hospital a estragar os movimentos. Queria-o mais que nunca. Queria senti-lo tocar-lhe sem medos, queria apoiá-lo pela perda, queria basicamente estar com ele em todos os momentos.
Ela já se tinha conformado com a ideia de afinal, não ser mãe e de não partilhar essa felicidade com Tom, mas ele… ele parecia-lhe demasiado abatido.
Estava à uma semana e meia ali fechada e queria liberdade. As dores eram demasiado fracas já, e os pontos estavam maduros, tinham cicatrizado bastante bem até, no fim desta semana iria tirá-los.

*

- Deixa-me em casa dos gémeos, por favor. É lá que está o Tom? – perguntou Carol.
- Sim, o Bill ficou em nossa casa e disse-me que o Tom estava lá. – sorriu-lhe – Estás mesmo bem? – perguntou preocupada.
- Sim, não me dói nada nem tenho perdas de sangue. Estou bem. – assegurou com um sorriso que Ana percebeu como sendo realmente verdade o que dizia.
Ana parou à porta dos gémeos e esperou que Carol se dirigisse à porta para arrancar.
- Boa sorte com ele.
- Obrigada.
– sorriu-lhe. – Ah mais uma coisa…
- Diz.
- Tenta localizar o Joel, por favor.
- Quem
? – Ana pelo nome não reconhecia.
- O gajo que me levou a trair o Tom, o gajo que me deu a facada. – disse.
- Foi o mesmo não é?
- Sim. Eu quero que ele seja culpado pelo que fez.
– Ana pôde ver que Carolina estava determinada a tal coisa, por isso não insistiu e aceitou.
- Ok, eu depois aviso-te então.
- Obrigada.
– sorriu e dirigiu-se de vez à porta do apartamento de Tom e Bill Kaulitz.

Tocou à campainha e esperou que a face espantada de Tom lhe aparecesse à frente.
- Posso entrar? – sorriu olhando-o. Tom abraçou-se a ela e enterrou a cara no seu pescoço.
- Estás bem? – perguntou olhando-a e fazendo ambos entrarem novamente em casa dirigiram-se para a sala onde se sentaram no sofá de cor negra e pele aveludada.
- Sim. – pousou a cabeça no ombro de Tom e ele abraçou-a.
- Mesmo?
- Sim.
– suspirou agarrando a cintura de Tom com força. – É bom estar de volta a ti. – sussurrou.
- Nunca saíste de mim…
- Não?
– perguntou.
- Não. – sorriu-lhe – E nunca vais sair! Porque se depender de mim, mais nada te vai acontecer… agora promete-me uma coisa… - pediu que ela o olhasse nos olhos - … vais tentar não te cortar.
- Eu não te vou dizer que não me vou cortar mais, cada vez que tento desistir aparece um novo problema que só me faz continuar e continuar ainda mais… mas vou tentar, isso vou.
– sorriu.
- Obrigada. – Tom beijou-a, primeiro de forma inocente e depois mais e mais provocante como gostava de a sentir. Carol quebrou o beijo com um sorriso nos lábios, mas antes de avançar fosse com o que fosse tinha uma pergunta a fazer a Tom.
- Já disseste à tua mãe? – perguntou.
- Sim. – suspirou.
- E está tudo bem?
- Sim.
– sorriu. – Tudo bem! – acrescentou voltando a beijar a namorada.

[Flashback]

- Mãe? – Tom tinha chegado a casa dos pais neste momento e fazia tenções de contar a notícia à mãe.
- Estou aqui meu amor! – apareceu-lhe à frente dando-lhe um beijo na testa. – Credo filho! Está tudo bem? – perguntou.
- A Carol…
- Que tem?
- A Carol levou uma facada no ventre e perdeu a criança.
– despejou de olhos fechados, proferir aquilo doía ainda mais.
- Han? Uma facada? Mas como? – perguntou preocupada abraçando o filho mais velho. Tom contou-lhe tudo. – Como estás?
- Vou ultrapassar tudo, a Carol está comigo e acima de tudo precisa de mim bem. Eu aguento!
– sorriu fracamente.
- Não engulas tudo, amor faz mal. E tu sabes disso. – fez ver.
- Estou habituado mãe, não há problema!
Simone sabia que era assim o feitio do filho, não havia volta a dar, mas se ele desabafasse mais era muito melhor. Esconder a dor nunca deu bom resultado, mas Simone já tinha percebido que Carol também era assim e como tal podia ser que isso ajudasse mutuamente.

[Fim flashback]

*

- Puto tu nem vais acreditar! – era Georg que se dirigia a Gustav que se mantinha deitado na espreguiçadeira de papo para o ar a apanhar o sol do último dia que tinha em Cuba.
- Que foi? – perguntou meio desinteressado, estava mole, mais um bocado e adormecia.
- É sério pá! Ouve-me. – disse numa voz mais credível.
- Que foi? – perguntou novamente, virando o corpo para Georg que se tinha sentado ao seu lado na respectiva espreguiçadeira.
- A Carol perdeu o bebé. – despejou.
- O QUÊ?! – sentou-se bruscamente quase berrando.
- Mais baixo! – repreendeu.
- Desculpa. – olhou em volta e já tinham meia dúzia de pessoas a olhar, mais um bocadinho e eram reconhecidos. – Mas o que é que aconteceu?
- O Tom não explicou bem, está completamente de rastos o puto, mas ao que parece a Carol levou uma facada no ventre.
– explicou.
- Uma facada? Que raio… - fixou a matutar. – Quem é que lhe deu a facada?
- Ele não disse.
- Amanhã logo vemos, suponho que o Tom precise de todo o apoio possível.
- Sim.
– no dia seguinte embarcavam de novo para a Alemanha.

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