sábado, 5 de março de 2011

[ 3 ]

Cá está ele. Este é um flashback e o mais provável é todas as partes em que os ditos flashback's surjam será assim em itálico, se não estarão devidamente identificados. Este capítulo dá-nos mais um cheirinho de porquês que a Silvie deixou no ar no capítulo anterior, mas não todos. todos os porquês serão desenrolados até à última
Sinceramente espero que gostem. beijinho*


Sentou-se novamente na beira que limitava a varanda do seu hotel. Estava farta de trabalhar, farta de ter que ouvir as mesmas ordens do costume, estava farta de ser escrava da máquina fotográfica (apesar de gostar) e completamente farta de não poder ter a mínima liberdade exigida a um ser humano. Não tinha escolhido aquele mundo para ser propriedade de uma qualquer marca mas para dar cara às marcas. A moda fora um fascínio, um desejo, uma luta um dia ganha. Hoje, a moda, o mesmo mundo que a incitara a segui-lo, era tudo menos arte, menos beleza e mais ossos e ela recusava-se a isso. Chegara a hora de pôr um ponto final no seu conto de fadas.
Respirou a brisa matinal da sua cidade de Berlim e deixou que os seus pulmões tivessem a oportunidade de sentir ar puro em vez de ar condicionado e aragens de ventoinhas maradas.


- Entra. – apertou mais o robe à cintura e dirigiu-se à porta quando ouviu bater nela. Abriu.


- Era suposto já estares pronta! – Marcele Bryon, o seu manager e todos os derivados, esbracejara.

- Acabei de me levantar. – retorquiu sentando-se sobre a cama desfeita. Não tinha paciência.


- E? Isso não é desculpa, estás habituada a trocar de roupa em muito menos tempo!


- Importas-te? Estou sem disposição.


- Estás com o período é? – ele gozou, rindo.


- E se? – revirou os olhos. – Mas se queres tanto que me despache, sai. – ordenou sem se exaltar.


- Como se nunca te tivesses vestido à minha frente! – riu novamente.


- Sai. – falou seriamente e assegurando uma postura que, apesar de não muito rígida, impunha respeito.


- Ok. – elevou as mãos no ar. – Dou-te 10 minutos para estares na sala de conferências, é lá que vamos dar as entrevistas e provavelmente fazer algumas fotografias.


Ela acenou afirmativamente com a cabeça. Esperava-a mais um dia intenso de trabalho mas nada ao qual já não estivesse acostumada ou nada ao qual ela já não tivesse pensado pôr um fim.


~


Nos seus calções negros e top branco, calcando sobre um par de saltos altos, Silvie dirigiu-se à tal sala de conferências do Hotel.


- Bom dia. – cumprimentou com o sorriso falso que lhe adornava os lábios naquela manhã. Estava totalmente a leste do trabalho e era mesmo a leste que queria estar. Precisava de férias, férias gigantes, eternas. Ou isso ou começaria a tratar toda a gente com um típico humor matinal pouco doce que normalmente não possuía.
Todos os presentes viraram as atenções para quem era a pessoa que fazia tanta gente deslocar-se àquela sala. Sempre bela, sempre elegante, pavoneante (mesmo sem o querer) Silvie fora recebida por um monte de sorriso decentes, felizes e muito pouco enfadados. Portanto, ninguém naquela sala se assemelhava a si.
Sentou-se a uma das mesas, como Marcele lhe pedira e respondeu às habituais perguntas cáusticas daquilo que era a vida de modelo.


“Qual a sensação de ser um modelo a seguir para o mundo?”
“Interessante.”


“Porque escolheu este trabalho?”
“Escolhi-o porque era um desejo.”


“O que acha de ser considerada uma das mulheres mais bonitas do mundo? Acha-se bonita? Para além do corpo há algo mais que a faça bonita?”
“Acho que é a verdade, afinal sou uma delas. Acho, bastante. O meu cérebro é muito sexy quando visto nu, por isso sim existe.”


“Quais são os seus hobbies?”
“Adoro cantar e tocar guitarra.”


“Planeia mais tatuagens já que são a sua imagem de marca?”
“As tatuagens são algo pessoal….”


“Acredita no amor? Tem namorado?”


Era mais que chapado que a sua vida íntima tinha que ser explorada.


- Não sei se acredito no amor e não, não tenho namorado.


- Não sabe se acredita? – o entrevistador pareceu surpreendido.


- Nunca estive cara a cara com ele. – respondeu secamente cruzando os braços. – Mas não se preocupe, no dia em que eu tiver uma conversa um tanto ou quanto civilizada com ele, dir-lhe-ei se acredito ou não, aceita? – fez a proposta no tom mais irónico que conseguiu como, aliás, respondera a todas as perguntas atrás feitas.
O entrevistador olhou-a com desdém e acenou negativamente. Afinal de contas tinha vindo entrevistar quem mesmo? A gaja toda boa que anda nas bocas de todo o mundo, ou a miúda rebelde sem qualquer respeito por ninguém que não sabia dar uma resposta sem falar com sarcasmo na voz?


- Obrigado a todos por terem vindo. – Marcele, na sua maneira educada e característica de sempre, mostrara a saída a todos os jornalistas presentes. Virou-se para Silvie. – Custa-te muito seres simpática?! – quase lhe berrou.


- Custa. – encolheu os ombros sentando-se na cadeira de maquilhagem onde a preparariam para a sessão fotográfica que teria em 10 minutos. – Principalmente quando as perguntas são do foro pessoal e eu acordei mal disposta. – respondeu-lhe como se realmente fosse essa a razão.


- Não me testes a paciência. – refilou em tom de ameaça.


- Digo-te o mesmo. – olhou-o em desafio. Marcele soltou uma interjeição muito mais feminina que outra coisa e virou costas, saindo da sala. – Estou farta deste paneleiro, Mia. – desabafou com aquela que era a pessoa em quem mais confiava na sua crew, a maquilhadora.


- Calma. – riu-se com o termo que a rapariga usara. Realmente Marcele não era propriamente um macho latino nem um homem ao qual se pudesse aplicar esse substantivo - homem - mas paneleiro talvez fosse demasiado exagerado.


- Como? Estou farta deste mundo.


- E só estás nele há 7 anos.


- Achas pouco?! Tenho 21 anos, ando nisto desde os 14 é demais para mim. – refilou já quase em murmúrios.


- Estás com alguma em mente, não estás? – Mia parou o que estava a fazer para olhar a amiga fixamente. – Vai sair daí merda. – disse prevendo.


- Apetece-me fugir. – desabafou. – Só quero que todo este mundo acabe, quero umas férias perpétuas.


- Não sei se eras capaz de o fazer, acima de tudo adoras isto.


- Pois adoro, mas passo a vida em picardias, já quase não desfruto de uma boa noite de sono, acho-me um zombie todas as manhãs, não aproveito a câmara, não vivo realmente a vida que queria… estou farta! – desafogou.


- Fala com o Marcele.


- Se falo com ele a coisa descamba, Mia. – avisou olhando o trabalho na sua face já terminado.


- Não descamba nada! Hoje falas com ele. Não achas melhor? – perguntou verificando que tinha feito um excelente trabalho nos olhos de Silvie.


- Já não acho nada. – levantou-se da cadeira ao ouvir o seu nome ser chamado. Esperava-a mais um momento do qual gostava. Quando entrava num qualquer cenário fotográfico esquecia todo o mundo lá fora, era apenas ela, a câmara, as luzes e mais ninguém. No entanto, tinha a sensação que aquele trabalho começava a deixar de dar os frutos que até ali sempre colhera.


[…]


- Deixa-me ver se percebi… - Marcele parou de comer para olhar Silvie que se mantinha na mesma posição desde que entrara no restaurante do Hotel. - … queres férias?!


- Sim. Preciso de descanso ou todos os dias serão como este. – encostou-se à cadeira. Sim, aquele dia tinha sido uma excepção, por norma era uma rapariga alegre, simpática, cheia de vida e parecia distribuir sorrisos a toda a gente que se cruzava com ela. Aquele dia tinha sido pior que os meses que já arrastava nas costas há muito tempo.


Silvie Ports era a modelo mais procurada por todas as marcas quer de roupa, quer de acessórios, quer de perfumes e tinha a figura mais bonita que alguém podia imaginar. O corpo perfeitamente delineado com as curvas mais acentuadas que uma modelo esquelética normal era obrigada a possuir, tinha o peso ideal ao seu 1,79m e isso dava-lhe um equilíbrio natural diferente do resto do mundo da moda; longos cabelos lisos de um cor-de-laranja vivo (a sua imagem de marca, juntamente com as tatuagens que apesar de serem vistas por todos nunca ninguém soubera o verdadeiro significado); olhos verdes; pele suavemente morena; pernas torneadas; Silvie era aquilo que qualquer homem desejaria no mundo.


- Não. – Marcele respondeu. Silvie descaiu o maxilar.


- Não? – perguntou.


- Não, não te posso dar descanso agora. – levantou-se da mesa. – Agora, no pico da tua carreira quase não tens direito a dormir e queres férias?!


- Estás a gozar comigo! – também ela se levantou da mesa e seguiu-o.


- Nem penses que vais armar sarilhos! – parou e apontou-lhe o dedo. – Experimenta sair da linha em que sempre andaste… experimenta apenas. – ameaçou.


- Acha que tenho medo de si? – perguntou afastando o dedo dele da sua cara com a mão. – Não tenho. Você não me dá férias, eu desisto de tudo.


- Não eras capaz. – olhou-a e reparou que todo o restaurante tinha os olhos sobre eles. Agarrou-a pelo braço, marcando o seu anel nele tal era a força que fazia.


- Não me teste, Mr. Gay. – limitou-se a responder. – Vai deixar de me ter onde quer, por quem quer, para quem quer e para aquilo que quiser. Não preciso de si. – cuspiu. – E largue-me! – agitou o braço. – Está a magoar-me! – avisou.


- Não quero saber se te magoo ou não, és uma pobre e mal agradecida! – gritou, já nem ele se importava com o redor.


- Porquê? – olhou-o novamente em desafio.


- Se não fosse eu, ninguém no mundo da moda te queria. Estás gorda, amor. – virou costas. – Ah! – olhou-o sobre o ombro. – Se desistes agora, desistes para sempre. É só um aviso.


- Considero-me avisada então. – sorriu-lhe em total gozo. – Eu desisto. – piscou-lhe o olho, encolhendo os ombros e passou por ele, dirigindo-se ao quarto. Se fosse por si, no dia seguinte já estaria num destino paradisíaco e nunca mais veria a cara de Marcele à frente. Nunca mais.

1 comentário:

  1. Olá Carla :)
    Beem, estou a gostar disto, com sinceridade. Não percebi bem o contexto da imagem, okay, ela é modelo e tal... mas aquela imagem nem me remete para modelos XD... wtv! foi só um detail.

    Achei a analepse interessante, embora ainda não tenha dito muito! Estamos numa de suspanse :p Bem que posso mais dizer? Gosto especialmente de algumas partes da tua escrita, outras acho mais engraçadas por serem tão características (é um bom exemplo a personagem Silvie e o modo como ela é retratada como 'a mulher que qualquer homem desejaria')XD gosto de ver também que estás mt dentro da personagem ou história, mesmo sem a relatares na 1ª pessoa.

    Estou muito curiosa em relação ao Billoqas gay XD tu NÃO me digas que este Macele é o namorado do Bill XDDD ahahah! é que imagino o Macele como um velho XD ou será mais do género mr-Jay (ANTM)? XD vai ser liiindo isto vai! xD

    beijinhos * e continua :)
    [btw, postei um novo capítulo na minha também. quando quiser, faça favor * // ah e lembrei-me agr não sei porquê, tens de voltar a fazer daqueles teus vídeos XD]

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