quarta-feira, 30 de março de 2011

[ 7 ]

Desculpem ter falhado o dia de ontem mas tive teste de Psicologia hoje e precisava pelo menos de asegurar que sabia o mínimo. Este capítulo é importante e poderá matar-vos alguma curiosidade e deixar outras :p Próximo algures no final da semana. Desculpem a formatação mas pronto.


Sabia-lhe bem um mergulho pela manhã, refrescar o corpo na água salgada e pousar ao sol por uns minutos dava-lhe a energia suficiente que necessitava para trabalhar o resto do dia. Não estava naquela casa só porque sim, não estava naquela praia só porque sim, não estava ali porque meramente lhe apetecia mas porque precisava. Tinha inspiração, tinha vida naquele espaço de água e areia.
Pegou nos montes de folhas que arrumara no armário e transportara tudo para a pequena mesa da sala onde poderia passar os olhos por eles muito mais à vontade. Desde vestidos de noite, a lingerie, biquínis ou calças de ganga do mais informal possível, tinha desenhos de tudo. Não negava que tinha jeito e não se negava a sorrir ao seu trabalho. Orgulhava-se.

Com o aparecimento repentino dos gémeos tinha-se dado ao trabalho de elaborar roupa masculina, inspirando-se na mistura dos dois estilos (de Bill e Tom) e até gostava dos frutos que o lápis e o pincel começavam a produzir, mas havia qualquer coisa que lhe faltava…

- Incomodo? – Tom espreitava, no momento, pela porta aberta da casa de Silvie.

- Claro que não, entra! – atrapalhada pela bagunça importante que tinha sobre a mesa, autorizou.

- Que estás a fazer? – perguntou, cusco como sempre, ao ver os desenhos espalhados sobre a mesa de vidro. – Desenhas? – pegou num, sem a mínima autorização.

- Não mexas se faz favor. – pediu tirando-lhe o desenho da mão e juntando-o aos outros que já houvera agarrado debaixo do braço preparando-se para os voltar a arrumar no armário. – E sim desenho, é um mero passatempo.


- Com a perícia que tens não o diria. – respondeu meio desinteressado. – Praia e depois almoço? – perguntou no momento seguinte.

- Eu diria mais almoço e depois praia. – sorriu-lhe ao convite. Sim gostava de conhecer aquele gémeo melhor e quem sabe de outras maneiras. – Que tal?

Ele riu-se. – Parece-me bem, no restaurante aqui em frente?


- Por mim pode ser. – concordou pegando na mala castanha que fazia pouco contraste com o curto vestido negro que trazia sobre o biquíni também da mesma cor.

~

- Porque é que só estamos os dois? – ela perguntou, a meio da sobremesa. – Não era suposto o teu irmão também ter vindo?


- Tive um arrufo com ele, não me apetece propriamente vê-lo. – disse, trincando o seu gelado.

- Um arrufo? – perguntou estranhando. – Pensei que vocês não fossem como os normais irmãos, pensei que vocês não se chateassem… - disse, realmente não era muito entendida no assunto “gémeos” mas podia tentar fazer que sabia alguma coisa. E sim, tal como toda a gente que algum dia se cruza com um famoso também Silvie fora pesquisar mais e mais a fundo sobre os líderes dos Tokio Hotel.

- Não, - sorriu-lhe – nós discutimos, e muito!


- E o que é que aconteceu? Se é que posso saber claro!


- Mulheres. – ela engasgou-se quando Tom a perfurou com o olhar e se pronunciou. Estaria ela implícita naquele “mulheres” e a discussão tinha sido pelo seu acto pouco racional quando se atirou a Bill? – Estás bem? – perguntou passando-lhe a garrafa de água.

- Obrigada. – bebeu. – Mas… estão a disputar a mesma mulher? – perguntou.

- Mais ou menos mas nem por isso. – ela riu-se sem perceber.

- Han?


- Não é que a estejamos a disputar, o mais normal é nenhum de nós ficar com ela no fim, mas…


- Mas?


- … mas há qualquer coisa nela que nos puxa aos dois… olhou-a.

- Então, vocês são gémeos. – deduziu como se nada fosse.

- Pois talvez seja isso, sempre tivemos bom gosto para as mesmas mulheres. – disse terminando o gelado.

- Isso é bom?


- O quê? Termos os mesmos gostos?


- Sim. – encolheu os ombros cruzando os talheres.

- Já roubámos namoradas um ao outro, – riu-se – não sei se isso é bom!


- Talvez não seja! – ela riu-se também, retratando todo o caso nela mesma. Pela conversa de Tom ele sabia o que se tinha passado entre ela e Bill e tentava agora a sua sorte. Talvez conseguisse, afinal não era o único curioso sentado àquela mesa. – Praia? – perguntou.

- Estou nessa! – sorriu-lhe.
[…]
- Silvie… - Tom não conseguia conter-se mais. Estava deitado ao lado dela, a torrar ao sol há praticamente uma hora e nenhum dos dois era capaz de abrir a boca. Ele estava a começar a aquecer por todos os poros ao imaginar aquilo que poderia fazer com ela, mas se se mantivesse calado e quieto certamente não teria sorte nenhuma.

- Sim? – ela respondeu virando a cabeça para que pudesse olhar Tom nos olhos.

- Porquê? – estava curioso, antes de fazer fosse o que fosse tinha que saber o que é que a levou a atirar-se ao Bill. O que é que a traumatizou tanto no passado que a fizesse desistir daquela maneira do seu sonho. Tinha que descobrir o que é que ela tinha em mãos e o que é que a magoava daquela maneira quando alguém tocava no assunto moda.

- Porquê o quê? – ela não percebeu. Ele sentou-se na toalha virando-se para ela.

- O que é que te perturbou tanto no passado? – ela suspirou sentando-se de frente para Tom.

- Queres mesmo saber? – ele acenou afirmativamente. – Ok, eu vou contar-te então. – respirou fundo - Sempre tive tudo o que queria na vida, os meus pais trabalhavam num banco e eram bastante bem sucedidos, vivíamos bem financeiramente e sempre me deram o amor necessário. Éramos felizes e éramos verdadeiramente uma família. Um dia estava a ver um programa de televisão sobre moda e pus-me a fazer poses em cima do sofá. – sorriu ao recordar-se. – A minha mãe entrou na sala e disse que eu tinha mesmo muito jeito. Eu como filha ri-me, sabia que uma mãe nunca iria dizer a um filho que ele não prestava para fazer alguma coisa, mesmo que realmente fosse muito mau. Tinha 14 anos na altura. E não a minha mãe não estava mesmo a brincar e acreditava piamente que era a minha vocação, então levou-me até ao Marcele. Ele era um grande amigo dela e grande empreendedor da moda, lançava caras novas todos os meses mas depois descartava-se delas, eu fui a única que ele insistiu em manter sob a sua asa. – respirou fundo. – Eu fui crescendo, querendo manter as minhas curvas, odiava ver todas aquelas escanzeladas, queria manter a minha cor de cabelo, queria ser diferente e… - Tom interrompeu-a.

- … e verdadeiramente boa! – ela riu-se pela sua sinceridade. – Desculpa, saiu-me.


- Não faz mal, obrigada pelo elogio. – sorriu-lhe e continuou observando a parte tímida de Tom mostrar-se pelo comentário pouco próprio ao momento. – O Marcele não queria que isso acontecesse, queria-me em todas as dietas maradas, chegou a propor-me as típicas drogas de passerelle, mas eu sempre disse que não.


- Existem drogas de passerelle?


- Sim, há certas modelos que não comem nem nada assim, só snifam e afins. – explicou.

- E tu nunca tomaste?


- Não, porque queria o meu lugar por aquilo que era verdadeiramente, não por aquilo que os estupefacientes me tornavam. Era o meu corpo e a minha alma, os dois puros na passerelle! Tornou-se tudo num sonho e cada vez que conseguia algo queria sempre o nível a seguir. Sempre. – tornou-se pensativa, mirando o horizonte. – A fama crescia exponencialmente, eu crescia como pessoa e como mulher mas em tudo há uma desgraça, certo? – perguntou retoricamente olhando as tatuagens coloridas nas coxas.

- O que é que elas significam? – Tom perguntou.

- São os meus pais. – suspirou contendo as lágrimas. – Desapareceram há 5 anos atrás, tinha 19 anos.


- Lamento. – ele olhou-a com pena. O ser frágil que Silvie era parecia vir agora ao de cima.

- Saíram para trabalhar e nunca mais voltaram. – disse – Depois disso dei conta de me tornar mais agressiva para comigo mesma. No entanto, o Marcele continuava na dele que eu tinha que emagrecer, que devia experimentar drogar-me, que devia fazer tudo o que ele queria! Podes portanto calcular o que se passava entre nós.


- Passavam a vida a discutir. – deduziu.

- Exacto. Estava a ficar farta, mas não conseguia largar o trabalho, não conseguia largar as câmaras, as luzes, os fatos, a maquilhagem, os acessórios. Não dava! Amava aquele mundo com todas as minhas forças.


- Foi só o Marcele que te fez desistir? – perguntou passando para a toalha dela, sentando-se ao seu lado ao vê-la descer cada vez mais baixo a nível emocional.

- Foi a maior parte. No entanto, o facto de eu não conseguir aguentar a pressão de todos os trabalhos a que eu dizia sim porque era vício e me sentia bem a fazê-los ajudou bastante. E o pior de tudo? Não tinha a minha mãe a apoiar-me, a dizer-me que eu conseguia, que era a melhor e que ninguém me iria impedir de ser o que queria ser. Posso ter muita confiança mas a motivação é indispensável, especialmente de alguém que nos conhece tão bem quanto os nossos pais. Tive que crescer muito depressa quando eles desapareceram e isso destronou a minha racionalidade. Não sei como consegui armar aquele escândalo no dia em que desisti de tudo perante o Marcele. – pousou a cabeça sobre o ombro de Tom quando sentiu o seu braço rodear os seus ombros. Tom beijou-lhe o topo da cabeça.

- Lamento que não tenhas tido aquilo que ambicionavas…


- Eu tive, Tom. Tive tudo isso e muito mais. – sorriu. – Mas foi realmente demais. – desabafou.

- Sentes-te mal com isso? Com o teres deixado tudo para trás?


- Mais ou menos. Sim, sinto porque era e é um sonho, algo pelo qual dava a minha vida, mas contrariamente não. Não porque deixava de raciocinar para poder fazer tudo, não tinha mão em mim, só nos outros. Não controlava os meus gastos emocionais e isso veio a revelar-se péssimo uns meses depois de ter deixado aquele mundo brilhante cheio de vida.


- O que é que se passou? – o olhar de Tom ganhara uma tonalidade clara de preocupação. Conseguia sentir o corpo de Silvie tremer contra o seu e a forma como ela o fazia não inspirava a mínima confiança. Olhou-a tentando perceber o que ela sentia mas a única coisa que conseguia distinguir dos seus olhos eram as lágrimas cristalinas que, não se movendo do sítio, pareciam dar um ar doentio aos olhos verdes e outrora cheios de vida de Silvie.

1 comentário:

  1. vantagem de só estar a ler agora: posso perceber 'o que se passou' já a seguir 8D

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