quarta-feira, 8 de junho de 2011

[ 15 ]

E cá está ele, desculpem-me a palha mas tinha que definir aqui umas coisitas e dar-vos mais um bocado da Silvie.


- Eu obrigo-te. – Tom olhou-a seriamente fazendo-a perceber que não estava a brincar.

- Obrigas? – perguntou com um olhar perverso tentando de algum modo travar Tom de querer saber a verdade.

- Nem tentes. – sorriu-lhe – Gosto muito de sexo mas prefiro ter o bem estar de uma amiga a ter o corpo dela. – Silvie sentiu o seu coração disparar. Tom queria mesmo saber o que se passara com ela e não iria desistir assim tão facilmente.

- Ok, ganhaste. – deitou-se sobre costas na cama e olhou um ponto fixo no tecto não sabendo porque parte iniciar. – Ahh…

- Então, - Tom ajudou – quando foi a primeira que fizeste isso? – deitou-se ao lado dela na cama, virado de frente para Silvie apoiando a cabeça com a mão.

- Tinha 16. – suspirou – O meu namorado morreu e desde aí…

- Morreu?! – Tom interrompeu-a chocado.

- Sim, demasiadas drogas em circulação pelo organismo. – disse. Nunca se tinha dado ao trabalho de pronunciar as palavras-chave que realmente definiam a morte de Jack, explicar aquilo como se ainda fosse, literalmente, uma criança era uma maneira de aligeirar a dor. Os anos tinham passado mas os traumas tinham ficado.

Tom percebeu que aquela memória estava demasiado acesa na mente de Silvie. Com a mão livre pousou-a sobre a barriga dela. – Foi por isso que ficaste tão sensível à situação do Peter? – perguntou.

- Sim. – respirou fundo. – Não é suportável a dor de perder alguém pelas drogas. O Jack podia não ter morrido, percebes?! – sentou-se bruscamente na cama fazendo a mão de Tom afastar-se severamente de si. – Se ele me tivesse ouvido um bocadinho que fosse ele ainda estaria vivo!! Vivo! – deu duas voltas ao quarto e as lágrimas caiam dos seus olhos como se não houvesse amanhã. Levou as mãos à testa afastando madeixas de cabelo e olhou Tom. – Eu podia ter evitado isso. Apenas se ele me ouvisse em vez de me amarrar…

Tom levantou-se da cama e pousou as mãos sobre os seus ombros. – Ele amarrava-te?!

- Sim, para que eu não o impedisse de fazer fosse o que fosse. Não era sempre… - sorriu vagamente virando costas a Tom – às vezes deitávamo-nos na cama daquela cave e conversávamos simplesmente, no meio de beijos e carinhos. – recordou. – Foi o meu primeiro namorado a sério, foi a minha primeira vez, foi… foi tudo para mim. – olhou-o novamente. – Eu tinha dado a minha vida por ele.

- E achaste que incutir dor em ti mesma resolvia o problema? – perguntou sentando-se novamente na cama olhando as marcas visíveis nas suas costelas. Abaixo dessas marcas Tom conseguia ler mais uma das suas tatuagens: “What doesn’t kill you makes you stronger”. Perguntava-se se aquela tatuagem naquele sítio teria mais algum significado do que aquele que naquele momento Tom lhe atribuía.

- Não resolveria o problema, mas dava. – encolheu os ombros.

- E é por isso que ainda continuas a fazê-lo? – apontou as cicatrizes recentemente abertas, imediatamente acima da tatuagem.

- Já te contei que a moda não foi fácil, não já? – perguntou, ele acenou afirmativamente – Então aí tens! – sentou-se ao lado dele.

- Eu percebo a parte do Jack, percebo a moda e a pressão toda, mas actualmente não chego lá. – tentou atingir. – Essas cicatrizes foram abertas recentemente, Si. – olhou-a de forma carinhosa e ainda assim meio ríspida, queria mesmo que ela falasse.

- Memórias, flashbacks, recordações! Não tens dessas coisas?! Depois da cena do Peter querias que eu me lembrasse do quê mesmo? Querias que eu continuasse impávida e serena no meio desta situação sem recordar, ainda que sem querer, algo que toda a adolescência me magoou?! – voltou a levantar-se e as lágrimas escorreram novamente. – Achas que foi fácil esconder toda esta situação perante uma câmara, perante uma máquina fotográfica? Achas que foi fácil fazer de conta que estava tudo bem quando eu atravessava a pior fase da minha vida?! – perguntou retoricamente. – Não foi, Tom e…

- Chega. – interrompeu-a, levantando-se da cama. – Não fales mais. – abraçou-a contra o seu peito e deixou-se absorver todas as lágrimas de Silvie.

- Essa tatuagem… - Tom perguntou depois de se ter deitado na cama com a cabeça dela sobre o seu peito.

- É um símbolo da realidade. Da minha realidade. – ela respondeu não o deixando acabar a frase.

~

- Tu sabes mesmo jogar a isto? – Silvie ajeitou a túnica larga que trazia vestida enquanto olhava Bill observar as cartas sem saber bem o que fazer com elas.

- Sim! Só não sei qual das duas jogar… - olhou novamente as três cartas.

- Dá cá isso estás a tirar-me do sério! – Tom bem tentou tirar-lhe as cartas das mãos, mas foi mal sucedido.

- Hey! Onde é que julgas que vais pôr as mãos!? – refilou afastando as cartas do alcance do irmão.

- Então joga. – Silvie pousou as próprias cartas sobre a toalha onde estavam todos sentados e cruzou os braços – Hoje de preferência, ok Billy? – sorriu-lhe.

Bill jogou.

- Eu não acredito. – Tom levou a mão à testa fazendo chapa. – Tanto tempo para isto?!

- O que é que eu fiz? – Bill perguntou baixinho para Silvie.

- Lançaste um trunfo. – explicou – Para cortar palha, não há pontos na toalha. – acrescentou também baixinho.

- Eu sabia que devia ter jogado a outra. – refilou para consigo mesmo.

- Vá leva lá isso, é teu. – disse Tom desanimado com o jogo.

- Não vejo qual é a graça de estarmos a jogar a isto, não tem piada absolutamente nenhuma! – Bill mandou vir.

- Tens mais alguma coisa para fazer por acaso? – refilou Tom de volta.

- Eu vou à casa de banho. – Silvie riu-se, levantando-se da toalha despindo a túnica, atirando-a para o chão.

- Olha falar das tatuagens dela! – Bill apontou. – E das minhas se for preciso, mas cartas? Só tem graça se for póquer!

- Tu não sabes jogar à bisca e sabes jogar póquer?! Com aquelas sequências todas e assim…? – Silvie voltou-se para ele.

- Sim. Porquê? É mau?

- É simplesmente estranho. – encolheu os ombros. – Mas queres ver as minhas tatuagens é? – perguntou pondo as mãos sobre a cintura.

- Ya. – respondeu secamente. Entretanto Tom tinha-se posicionado seriamente na toalha a observá-la. Era agora que iria descobrir todas as mais ínfimas tatuagens dela… Mas espera aí, ele já a tinha visto nua, se é que se pode sublinhar isso, e não tinha visto mais nenhuma tatuagem em especial que já não estivesse normalmente à vista.

- Ainda não viste todas as tatuagens dela? – Tom perguntou ao acabar a sua linha de pensamento.

- Suponho que sim, mas não sei significados e sabes que eu gosto de saber essas coisas! Para além de ser interessante de se ouvir, né?

- Claro tu és cusco. – Tom riu-se – Nem sei como não juntei dois mais dois mais cedo.

- Sim, que dá três, Tom agora cala-te. – olhou Silvie totalmente interessado.

- Dá três? – Tom ficou pendurado no resultado.

Silvie gargalhou. – Tom, ainda não percebeste que ele estava a gozar contigo?

- Acorda para a vida hom… - Bill interrompeu-se quando sentiu o seu telemóvel tocar na espreguiçadeira ao lado.

- Até aqui tu não largas o telemóvel? És impressionante. – Tom observou.

- Eu sei que sou importante… - Bill respondeu meio desnorteado assim que leu “Joe” no ecrã. - … e tenho que atender isto. – levantou-se bruscamente e dirigiu-se ao quarto na casa em frente, fechando a porta.

Tom e Silvie trocaram um olhar, tipo “Han?”.

- Ok, então eu vou mesmo à casa de banho! – apontou com o polegar para trás de si.

- Isso era o que tu querias! – Tom levantou-se e agarrou-a pelo braço quando Silvie se preparava para subir as escadas de casa e dirigir-se ao seu interior. – Agora quero ver essas tatuagens… - sorriu-lhe. Ela riu-se.

- Ainda não as viste todas? – perguntou enlaçando o pescoço de Tom com os braços sentindo um desejo quase incontrolável de beijar os seus lábios e voltar a saborear o piercing que Tom ali possuía.

- Não sei, diz-me tu… - arrastou os lábios pela linha de maxilar dela e deixou-se absorver a essência que o seu corpo emanava.

- Então proponho-te um desafio… - Tom levantou a cabeça do seu pescoço e olhou-a interessado. – Há uma tatuagem no meu corpo que tu ainda não viste. – informou sob o olhar espantado de Tom. Como é que ele ainda não vira? – Encontra-a.

- Tu tens uma tatuagem que eu ainda não vi? – Tom largou-a e perguntou só para ter a certeza de que não tinha ouvido mal. – No teu corpo uma tatuagem que eu aind… - ela interrompeu-o.

- Sim Tom ai!

- Mas como?!

- Porque não procuraste bem! – respondeu.

- Ai não? Então quê tens uma tatuagem nas paredes da vagina queres ver? – ela riu-se a bandeiras despregadas.

- Acho que ainda não avançámos a esse ponto da tecnologia, mas olha – apontou-lhe o dedo – é uma opção a pensar. – Tom riu-se e levou a mão à testa.

- Que sítios do teu corpo é que eu ainda não vi…? – perguntou em voz alta o seu pensamento. – Nenhum, eu já te revistei toda… - olhou-a minuciosamente. Revistou com os olhos cada pormenor e cada sinal que encontrava no corpo de Silvie, mas não existia uma única gota de tinta que ele já não soubesse que ali estava.

- Então, está difícil? – perguntou aproximando-se dele envolvendo a sua cintura com as mãos e os seus lábios nos dele.

- Muito. – quase suspirou de contentamento quando a rodeou pelo rabo e mordeu o seu lábio inferior sugando-o.

- Estás muito quente. – Tom ficou suspenso por um momento. Aquele quente referia-se a si ou ao sítio que era suposto encontrar? Voltou a beijá-la. – Muito muito quente mesmo… - sorriu-lhe quase desmanchando-se numa gargalhada.

- Tu tens uma… - parou a frase e levou uma das mãos ao pescoço dela, deslizando os dedos até aos seus lábios. Puxou-lhe o lábio inferior. – Fuck Off. – leu. – Tu tens uma tatuagem no interior do lábio?! – riu-se. – A dizer “Fuck Off”? És boa do juízo?

- Não! - riu-se voltando a beijá-lo.

- Então e explica-me lá as outras vá! – afastou-se dela e perguntou.

- Ai tu queres mesmo saber? – riu-se.

- Ya. – cruzou os braços. Silvie semi-cerrou-lhe os olhos.

- Estas e esta e esta… - apontou as caras nas pernas, a frase nas costelas e o “Keep Smiling” na parte de trás do ombro. - … já conheces os significados. – Tom acenou afirmativamente. – Esta… - apontou uma gaiola aberta e pássaros no pulso. - … é muito simples: nada dura eternamente e podes perder tudo do nada. – encolheu os ombros como se aquilo fosse totalmente óbvio. - Neste coração... - apontou a bacia onde um coração meio antigo, ornamentado e com uma fechadura figurava. - ... alguma chave servirá. – Tom sorriu era suposto aquilo ser um símbolo de amor? Original. - E esta… - puxou o lábio - … foi uma brincadeira! – riu-se.

- Tu fizeste uma tatuagem por brincadeira?! – perguntou aquele que não achava a mínima piada a tatuagens.

- Ya. – respondeu simplesmente. – E também que nem todos têm o direito de me beijar. – sorriu-lhe.

- Hum, isso coloca-me num pedestal importante… - agarrou-a pela cintura e perscrutou a sua boca.

- É eu sair daqui e vocês atacam logo ao marmelanço! – Bill fingiu uma tosse quando chegou ao cimo das escadas e viu Tom e Silvie com os lábios enrolados.

- Algum problema com isso, maninho? – Tom olhou-o.

- Não, por mim podem continuar! – sorriu aos dois.

- Pergunto-me quem era ao telefone para vires com um sorriso desses? – Silvie mandou a boca e Bill ficou suspenso no universo.

- Posso falar contigo, Silvie? – perguntou.

- E porque é que eu fico à parte? – Tom não percebeu.

- Tu não ias perceber nada do que eu ia dizer, preciso de uma mulher! Ok?

- Ok. – Tom elevou a sobrancelha esquerda e, quando Bill e Silvie entraram em casa, ele deitou-se à beira-mar.

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