terça-feira, 16 de agosto de 2011

[ 17 ]



Sorriu abertamente quando olhando para cima da cama viu todas as suas criações terminadas. Todos os vestidos realizados em papel estavam concretizados no real. Silvie tinha terminado uma colecção de vestidos de noite e preparava-se para continuar o campo da lingerie e despachar o mais rapidamente possível todos os desenhos. Estava desejosa de terminar as colecções e começar a pedir aos gémeos que pegassem na sua máquina fotográfica e lhe ajudassem a organizar um catálogo decente em que ela era não só a criadora como também a modelo.
Sentou-se no sofá com meia dúzia de tecidos e desenhos nas mãos e preparou-se para pôr mãos à obra.

- Silvie? – era Tom.

- Entra. – ela sorriu-lhe quando o viu espreitar para dentro da sua sala. Tom entrou e sentou-se ao lado dela observando os desenhos que ela tinha sobre o sofá.

- Estás a trabalhar?


- Ya, vou começar a lingerie. – disse encolhendo os ombros pousando sobre a mesa os tecidos. – Mas e tu? – perguntou notando a sua alegria normal desvanecida, parecia triste e ao mesmo tempo chateado com alguma coisa. – Estás bem?


- O que é que o Bill te disse? – perguntou brincando com uma almofada tentando não se passar com aquele assunto. – Ele está estranho e desde o início destas férias que noto que ele me esconde alguma coisa... e já o admitiu, mas não me conta!


- Eu não te vou dizer o que ele me disse, só te posso dizer que vais ter que compreender o que ele escolher daqui para a frente. – olhou-o.

- Han? Como assim? – perguntou confuso.

- Não te posso dizer mais, vai ter que ser ele a contar-te, Tom não eu.


- Mas porque é que ele te contou a ti e não a mim? Não sou eu que sou irmão dele?! – perguntou levantando-se do sofá, inquieto e irritado com o mundo.

- Sim, mas às vezes é mais fácil desabafar com um desconhecido do que alguém que conhecemos demasiado bem. – respondeu.

- É muito grave? – perguntou olhando-a seriamente.

- Hoje em dia é uma das coisas mais normais do mundo, o Bill é apenas mais um.

Desta vez Tom ficou ainda mais confuso.

- Mas não tens nada com que te preocupar, ele ‘tá de perfeita saúde e recomenda-se! – riu-se da cara de Tom.

- Ele não me vai contar, ‘tou mesmo a ver! – refilou.

- Claro que vai. – disse e acrescentou mudando de assunto. – Já que estás aqui quero pedir-te um favor…


- O quê? – olhou-a algo desanimado. Silvie dirigiu-se a um dos armários daquela sala e tirou lá de dentro a máquina fotográfica. – Wow, bela máquina! – Tom arregalou os olhos.

- Quero começar a planear o meu regresso… - começou - … e preciso que alguém faça o favor de tirar as fotografias. – passou-lhe a máquina para as mãos. – Podes fazer isso?

Tom olhou-a com um sorriso maroto. – Fotografar-te naqueles vestidos vai ser SÓ – realçou – um prazer. – riu-se. – Mal posso esperar por acabares isto…! – com um dedo pegou na tanga que Silvie tinha sobre a mesa em que estava a trabalhar.

- Estou lixada! – riu-se vendo a boa disposição de Tom regressar. Bendita a hora em que se lembrou daquele seu pormenor ou então teria que quase lhe contar aquilo que Bill lhe dissera. – Vou-me vestir. – anunciou e dirigiu-se ao quarto.

- Já sabes onde é que vamos fazer as fotografias? – Tom gritou-lhe. – É que na praia fotografar vestidos de noite não tem muita pinta… - disse quase para si mesmo.

- Aperta aí se faz favor. – voltou um minuto depois agarrando ao peito um vestido negro, comprido e sem alças. Apanhou o cabelo e virou-se de costas para Tom.

- Tu tens mesmo jeito! – Tom não conseguia deixar de dizer aquilo cada vez que via uma nova criação da rapariga.

- Obrigada. – ela voltou-se para ele e agradeceu depositando-lhe um beijo sobre a bochecha direita. – Relativamente ao sítio, eu tenho umas ideias. – sorriu arrastando Tom para uma das divisões da casa.

- Nota-se! – exclamou quando a divisão onde entraram era um autêntico estúdio de fotografia. – Bem, acomoda-te. – encolheu os ombros e colocou a câmara em punho. – Comecemos.

Silvie ligou a ventoinha, posicionou os painéis de iluminação e pediu a Tom que verificasse se estava tudo bem.

~

Bill andava pela praia com os pensamentos espelhados no mar límpido que se estendia ao longo de quilómetros. Continuava sem saber como contar a Tom aquilo que sentia no seu interior, continuava sem saber como é que devia abordar aquele assunto tão sensível com ele. Tom era um casmurro, em certas coisas demasiado tradicional, odiava sair do normal, e noutras coisas era a pessoa mais radical que conhecia, mas em relação à sua sexualidade Bill duvidava que ele fosse radical, duvidava que Tom fosse algum dia compreender o porquê de ele ser bissexual.

Sim, Bill tinha finalmente conseguido perceber-se a si mesmo. Tinha conseguido descobrir-se de forma tão pura e tão natural que para si já não era constrangedor pensar que gostava das duas partes do globo e que se sentia bem nas duas partes do globo.
Bill tinha estado à conversa com Joe umas horas antes e talvez aquela chamada tivesse sido decisiva quando ele se declarou a si da maneira mais querida que alguma vez alguém se tinha declarado a si.

**
- Bill… - Joe chamou-o quase num sussurro interrompendo o discurso complexo e meio sem sentido que Bill lhe fazia. - … eu já não quero saber se gostas de gajos, se gostas de gajas, se preferes cães ou chimpanzés!, eu só sei que independentemente do teu sexo ou do meu, nós completamo-nos. E eu quero partilhar o meu mundo contigo, poder dizer-te todos os dias ao ouvido que te amo tanto como nunca ninguém se atreveu a amar. Compreendes?


- Oh… - tinha ficado pendurado na resposta de Joe e era chapado que ele sentia exactamente o mesmo.
**

[…]

- Chegaste a investigar os pais do Peter? – Tom perguntou ligando o cartão de memória da máquina fotográfica ao computador portátil que Silvie tinha pousado sobre a mesa do pequeno estúdio.

- Fui lá umas duas vezes, mas não vi nada de novo e não encontrei os pais do puto. Provavelmente estavam cá de férias e já foram embora… - encolheu os ombros sentando-se ao lado de Tom.

- Hum… então são traficantes de droga e afins mundiais… - Silvie olhou-o. – Que foi?


- Não propriamente. – riu-se do filme que mentalmente Tom começava a fazer. – Podiam simplesmente conhecer estes gajos por já cá terem estado antes, por exemplo.


- Ou isso. – pôs aquele assunto de lado e começou a passar em revista as centenas de fotos que tinha tirado a Silvie na colecção de vestidos de noite completa.

- Tens jeitinho… - sorriu ao ver parte do sonho de regresso invadi-la.

- Digamos que tu foste modelo profissional e a única coisa que eu tenho que fazer é carregar em botões, não preciso de te dar indicações! – riu-se.

- Fazemos uma boa dupla então! – riu-se com ele dando-lhe um leve murro no braço.

Sem comentários:

Enviar um comentário