quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[ 19 ]



Saiu de casa e sentou-se confortavelmente na areia molhada sentindo ocasionalmente a temperatura amena da água chegar aos seus pés. Tentava mentalmente formar uma conversa para conseguir abordar o tema em frente a Tom, mas estava realmente difícil. Não sabia, de todo, como dizer ao irmão “Eu sou bissexual e neste momento estou muuuuito inclinado para a parte masculina da coisa!" Talvez o melhor fosse ser o mais directo possível, afinal Tom era uma das pessoas mais directas que Bill conhecia em todo o mundo. Em contrapartida não ficaria Tom chocado com tal frontalidade?

- Merda. – deitou o corpo semi-nu sobre a areia e fitou o céu azul. Estava aterrado num paraíso, com Tom e uma, digamos, antiga conhecida bastante interessante e o seu cérebro não conseguia aproveitar-se disso.

Ouviu risos aproximarem-se de si e apercebeu-se que pertenciam a Tom e Silvie. Ao contrário de si aqueles dois pareciam bastante felizes. “Nem quero saber porquê!” pensou com um sorriso nos lábios, fosse de que maneira fosse gostava de ver aqueles de quem gostava felizes com a vida e consigo mesmos.

- Vais perguntar-lhe e resolver as coisas de uma vez por todas? – Silvie perguntou ao reparar que Bill e Tom notavam a presença um do outro e, ainda que distantes, o bom ambiente parecia ter desvanecido por entre a tensão.

- Sinceramente? – olhou-a continuando a caminhar sobre a areia em direcção ao irmão. – Já não quero saber, se ele contar contou se ele não contar não contou. Esta situação está a estragar-me o resto das poucas férias que tenho e ficar zangado com o meu irmão gémeo não estava nos planos. – suspirou.

- Não era essa a tua posição ontem à noite relativa ao assunto… - ela estranhou.

- É… - encolheu os ombros sorrindo - … as pessoas mudam. – Silvie denotou qualquer coisa mais naquela frase que a deixou intrigada.

- Eu faço o jantar! – Tom levantou-se da cadeira em que estava sentado em frente à mesa onde via e revia as fotografias que tirara a Silvie.

- Credo, tiveste um vipe agora foi? – perguntou Silvie olhando-o dirigir-se à cozinha da cadeira ao lado da dele. Seguiu-o. – Ou isso é tudo para manter uma certa conversa à distância…? – não queria provocar mas não gostava de ver duas pessoas como eles chateadas.

- Essa conversa vai existir, Silvie. – olhou-a por instantes enquanto rebuscava nos armários qualquer coisa que pudesse cozinhar. – Simplesmente me deu a fome. – acrescentou.

- Hum, vou fingir que acredito. – encolheu os ombros e sentou-se sobre o balcão da cozinha mirando o rapaz de tranças.

- E podes acreditar. – parou e olhou-a seriamente – Não faço ideia do que é que ele me anda a esconder, mas vou descobrir, nem que me esfole. Não o percebo, facto; não sei como é que me conseguiu esconder seja lá o que isso for, facto; parece uma mulher no que toca a mistérios, facto mas é meu irmão caramba não consigo ficar de costas voltadas com ele durante muito tempo! – desabafou. – A coisa vai voltar ao sítio mas não é hoje! – voltou aos armários. – Importas-te que passe cá a noite? – perguntou.

- Não. – respondeu saltando do balcão. – Que raio de cena é que andas à procura? Estás a enervar o meu sistema! – refilou.

- Não tens massa? – perguntou enfiando a cabeça noutro armário.

- Tom. – chamou-o, ele nem sequer ligou. – Tom! – repetiu.

- Que é? – perguntou que nem um puto desinteressado.

- Já olhaste por acaso para cima das bancadas? – perguntou cruzando os braços.

Tom olhou para onde ela apontava naquele momento.

- Desculpa, não tinha visto! – riu-se ao ver dois frascos de massa sobre a bancada da cozinha. – Sorry, lá! – ela abanou a cabeça negativamente.

- Vê lá se fazes alguma coisa de jeito ao menos. – virou costas. – Sabes mesmo cozinhar? – riu-se voltado atrás.

- Ehh… - Tom riu-se.


- Vai lá então… - travou caminho e acenou a Bill, sorrindo-lhe e vendo-o corresponder.

- Vais-me deixar? – perguntou-lhe virando-se para trás ao reparar que ela acenava a Bill e voltava para trás.

- Tens 5 anos? Precisas de mim para falar com o teu próprio irmão?

- Não tenho 5 anos mas apreciava que estivesses presente… - disse.

- Porquê, Tom? Nem me conheces. – encolheu os ombros e sorriu-lhe dando-lhe um beijo na bochecha esquerda. Dirigiu-se a casa e Tom continuou em frente até se sentar ao lado de Bill.

- Dormiste em casa dela? – perguntou Bill tentando começar a conversa.

- Sim.

- Então e queres saber que coisa é essa que parece que és o único que não sabe? – viu Tom deitar-se sobre a areia.

- Se quiseres contar, força… - fechou os olhos e apreciou o calor do sol enquanto Bill parecia escolher as palavras certas para lhe contar fosse que mistério fosse.

- Eu desde esta tour que depois de conhecer o Joe, aquele amigo, lembras-te…? – Tom emitiu um som afirmativo – Eu fiquei com umas dúvidas sobre umas coisas e ele não ajudou muito a que eu resolvesse essas dúvidas e puxou o meu lado mais… - Bill estava a pôr os pés pelas mãos e já não sabia como dizer fosse o que fosse. Tom ergueu o tronco e apoiou-se nos cotovelos olhando nos olhos de Bill notando alguma relutância em prosseguir a conversa.

- … o teu lado mais feminino? – completou em forma de pergunta.

- Não. – Bill acenou negativamente baixando a cabeça. – O meu lado mais masculino.

- E qual é que é o problema disso? Sendo homem és, literalmente, obrigado a ter um lado mais masculino, Bill. – disse como se fizesse todo o sentido na sua cabeça, mas o comportamento humano nunca tinha sido a sua área.

- Mais ou menos. – levantou a cabeça em direcção aos olhos do irmão e não pensou sequer nas palavras que lhe afluíram à boca no momento seguinte. – Tom, eu sou bissexual! – respirou aliviado.

- Hum. – Tom olhou o horizonte calmamente sem saber o que pensar no momento. – Espera aí… - qualquer coisa começou a ganhar forma na sua mente. - … bi, dois… sexual, sexo… - fazia ligações morfológicas como um puto pequeno fascinado com isso pela primeira vez. - … dois sexos. Bill, estás a dizer-me que és… - sentiu o corpo arrefecer bruscamente para uma descarga de energia se dar em si no segundo seguinte. Congelou com o pensamento que lhe afluía ao cérebro. - … gay? – virou os olhos lentamente, antes presos no horizonte, até aos de Bill. – Han?! – não tinha uma reacção formada em relação àquela revelação.

- Bissexual não é gay! Eu… aprecio os dois lados! – emendou Bill ao ver Tom reagir da maneira que tinha imaginado: mal.

- Continuas a dizer-me que gostas… - parou por segundos quando imagens pouco próprias surgiram na sua mente - … de outros gajos! Man, isso é nojento! – levantou-se repentinamente andando para trás e para a frente sob os olhos de Bill. – Tu já… - fez um dos gestos mais comuns com as mãos sugerindo sexo.

- Não. – levantou-se também e pôs-se em frente a Tom. – Mas… - foi interrompido.

- Todas as tuas manias pela moda, a tua maneira de vestir, de calçar, de pentear, a maquilhagem, as unhas, alguns dos teus gostos mais gerais… - enumerou e virou-se para o irmão. - … como é que eu nunca percebi? Ou aliás!, como é que eu continuava a acreditar que a tua frase feita de “Eu não sou gay!” era verdade!? Como? Como é que conseguiste esconder isso de mim, Bill?! – levou as mãos à cabeça e sentou-se na areia. Respirou fundo.

- Essa não é apenas uma frase feita, eu não sou gay sou bi. – dizer-lhe aquilo ainda o arrepiava.

- Ah, que diferença. – respondeu ironicamente.

- E é. Eu não deixei, nem deixo de me sentir atraído por mulheres!

- Como é que te sentes em relação à Silvie, então? – perguntou, era a única mulher que circulava na vida deles durante aquelas férias.

- Foi uma dor de cabeça. E por isso é que lhe contei primeiro a ela, eu precisava de lhe dizer que ela me fazia confusão relativamente àquilo que sentia, e depois tinha o Joe sempre ao telemóvel a dar-me motivos para gostar dele também! Estive mal, mas passou. – encolheu os ombros. – Estive confuso e completamente distante das respostas, mas acho que as encontrei.

- Hum, então queres ter a Silvie e esse tal Joe? – perguntou meio confuso.

- Não! Neste momento só quero o Joe. – Tom engoliu em seco, ver o irmão só a querer um gajo era esquisito.

- E a Silvie onde é que fica aí no meio?

- Fica contigo. – respondeu simplesmente com um sorriso.

- Estás a abdicar dela por mim, ou…? Tiveste-a primeiro que eu…

- Voltamos à mesmo conversa, Tom? – rolou os olhos. – Isso é estúpido neste momento!

- Ainda agora me disseste que o que sentias por ela te confundia! – refilou.

- E sim, porque é um corpo feminino e bastante bonito, por sinal! – explicou-se. – Mas não mais que isso.

Tom levantou a sobrancelha esquerda olhando Bill. Estava demasiado confuso com aquilo que Silvie começava a significar para si e agora aparecia-lhe Bill a dizer que gostava de homens e de mulheres e que Silvie fora crucial nas suas decisões. Em que mundo é que ele estava?
Suspirou.

- Se é isso que queres da vida não posso fazer outra coisa senão apoiar-te. Lá por jogares na outra equipa não deixas de ser meu irmão. – olhou-o. Bill abraçou-se ao seu pescoço. Tom sorriu com o gesto retribuindo o abraço. Podia sentir que era importante a sua aceitação naquele assunto e se sempre lhe ensinaram a respeitar e a aceitar os outros como são, não ia recusar isso ao próprio gémeo.

- Obrigado. – Bill sorriu-lhe dando-lhe um murro no ombro. – E aviso-te já que não vou ser mais menina só por causa deste assunto e do que ele implica!

- Tu sempre foste menina! – riu-se.

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